Alemanha volta a investir na área militar e muda equilíbrio de poder na Europa

Atualizado em 1 de dezembro de 2025 às 13:11
Tanque Leopard-2 da Rheinmetall em Unterlüss, Alemanha. Foto: Fabian Bimmer/Reuters

A Alemanha acelera seu processo de rearmamento desde a invasão russa da Ucrânia, e o movimento já altera a balança de poder na Europa. O país estuda retomar o serviço militar obrigatório em 2027 caso não consiga atrair recrutas suficientes no próximo ano. A meta é ampliar as Forças Armadas para 260 mil integrantes, bem acima dos cerca de 180 mil atuais.

O aumento dos investimentos começou em 2022, com a criação de um fundo de 100 bilhões de euros após o início da guerra. Os gastos militares saltaram de 1,19% do PIB em 2015 para 2,12% em 2023 e devem atingir 3,5% em 2029, seguindo as novas metas da Otan. Isso colocará o orçamento bélico alemão perto de 150 bilhões de euros, superando com folga os 80 bilhões estimados pela França para o mesmo período.

Esse avanço rompe o equilíbrio histórico em que Paris liderava militarmente enquanto Berlim comandava a economia. A Alemanha agora busca maior protagonismo, exemplificado pela criação de sua primeira brigada no exterior desde a Segunda Guerra, instalada na Lituânia.

A percepção de risco russo impulsionou a militarização em toda a Europa, com países como a Polônia destinando quase 4,7% do PIB ao setor.

Em Berlim, o premiê Friedrich Merz conta com mecanismos que permitem ampliar os gastos mesmo sob regras fiscais rígidas. A União Europeia autorizou flexibilizações no endividamento, ampliando o alcance do fundo criado por Olaf Scholz sob o conceito de “Zeitenwende”, ou ponto de virada.

Militares alemães. Foto: Mindaugas Kulbis/AP

Analistas do IISS avaliam que a Alemanha pode se tornar pilar da defesa convencional europeia, embora ainda haja dúvidas sobre apoio político e social ao processo.

Pesquisas mostram que 54% da população apoia o retorno do alistamento, mas 63% dos jovens são contrários. Há também a incerteza sobre os rumos da guerra caso negociações avancem. Mesmo assim, analistas acreditam que o movimento de rearmamento deve continuar. Uma lista obtida pelo Politico mostra 320 projetos militares alemães até 2035, totalizando 377 bilhões de euros.

A expansão ocorre também com foco em reduzir a dependência dos EUA. Apenas 10% dos novos investimentos deverão ir para empresas americanas, enquanto o restante será destinado a fabricantes europeias, em grande parte alemãs, como a Rheinmetall, que aumentou em 30% sua receita neste ano e viu suas ações avançarem 200%.

A relação com Paris enfrenta tensão adicional diante da possível saída alemã do programa europeu de caça de sexta geração. Ao mesmo tempo, o governo alemão adota tom de alerta. O ministro da Defesa, Boris Pistorius, disse que um ataque russo à Otan poderia ocorrer em 2028, declaração criticada por analistas russos, que a veem como tentativa de justificar medidas impopulares.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.