Alexandre de Moraes ao Washington Post: “Não existe possibilidade de recuar um milímetro”

Atualizado em 18 de agosto de 2025 às 8:55
Alexandre de Moraes, ministro do STF. Foto: reprodução

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afirmou, em entrevista ao jornal americano Washington Post, que não pretende ceder diante das pressões políticas envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.

“Não existe a menor possibilidade de recuar nem um milímetro”, declarou o magistrado, chamado pelo WP de “o juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump”. A fala ocorreu após ele relembrar o episódio de 4 de agosto, quando determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro por descumprir decisão judicial que o proibia de usar redes sociais.

“Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem tiver que ser condenado, será condenado; quem tiver que ser absolvido, será absolvido”.

Moraes também comentou as retaliações impostas pelo governo Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos elevou tarifas de importação em 50% sobre produtos brasileiros, revogou o visto do ministro e incluiu seu nome na lista de sancionados pela Lei Magnitsky, sob alegação de supostas violações de direitos humanos. Mesmo assim, o magistrado disse manter “total tranquilidade” para aplicar a lei.

A reportagem destaca que Moraes se tornou um dos nomes mais influentes da Justiça brasileira, conduzindo inquéritos contra a desinformação, determinando prisões de políticos e até suspendendo a operação da plataforma X no Brasil.

“Não há como recuar daquilo que devemos fazer”, afirmou, acrescentando que toma suas decisões com “total tranquilidade”. O Washington Post relatou ainda que, em 2019, em meio à escalada de ataques de Jair Bolsonaro e seus aliados contra o STF, o então presidente da Corte, Dias Toffoli, ligou para Moraes com um “pedido urgente”.

Coube a ele liderar o inquérito das fake news, considerado um “escudo” contra ameaças e discursos antidemocráticos nas redes sociais.

O Post destacou que Moraes aplica uma legislação mais rígida sobre liberdade de expressão do que a existente nos Estados Unidos. “Entendo que, para a cultura americana, é mais difícil compreender a fragilidade da democracia, porque lá nunca houve golpe. Mas o Brasil teve anos de ditadura sob Getúlio Vargas, mais 20 anos de regime militar e inúmeras tentativas de golpe. Quando se é mais atacado por uma doença, você forma anticorpos mais fortes e busca uma vacina preventiva”, disse.

O jornal destacou ainda que Moraes ficou responsável por quase todos os inquéritos sobre ataques à democracia ligados a Bolsonaro e seus apoiadores, além de ter comandado o Tribunal Superior Eleitoral em 2022, quando tornou o ex-presidente inelegível. Ele também assumiu a apuração sobre a trama para se manter no poder, que inclui planos de assassinato de adversários políticos.

“Este é um processo legal legítimo. Cento e setenta e nove testemunhas já foram ouvidas”, afirmou Moraes. Questionado se acumula poder em excesso, o ministro disse que mais de 700 de suas decisões foram revisadas pelo STF em recursos. “Você sabe quantas eu perdi? Nenhuma”, concluiu.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.