Alexandre de Moraes, pode recolher o elemento para o xadrez! Por Edward Magro

Atualizado em 22 de janeiro de 2025 às 22:11
Jair Bolsonaro e Alexandre de Moraes. Foto: Igor Estrela/Metrópoles

POR EDWARD MAGRO 

Sempre que a Papuda está pronta para envolver Jair Bolsonaro em seus braços calorosos e inescapáveis, o bolsonarismo dispara seu tradicional blefe: difundir na “grande mídia” que o STF teme uma “reação indignada dos apoiadores”. É quase uma dança sincronizada.

A trama bolsonarista é previsível: se não estão espalhando fake news, estão planejando uma. Quando o bolsonarismo não está abertamente mentindo, está preparando a próxima mentira; é um show monótono, um loop contínuo na Jovem Pan reiterando o mesmo discurso. A suposta “reação indignada dos apoiadores” é apenas um eco fraco do pós-golpe fracassado, da tentativa de assassinato de Lula, Alckmin, Alexandre de Moraes e do enigmático Juca.

No entanto, a realidade é que Bolsonaro é um zumbi que ninguém deseja ter por perto. Duvida?

Observe o círculo político que o defende: Braga Netto (que o acompanhará na Papuda), seus filhos (que em breve também estarão lá) e Hamilton Mourão (um parceiro fascista desde o início, mas astuto).

É crucial notar Ciro Nogueira, que se limitou a um post tímido afirmando: “Há coisas das quais tenho certeza, e uma delas é sobre a inocência de Jair Bolsonaro”. No covil da direita, Ciro Nogueira, a raposa que come outras raposas, já deixou o barco bolsonarista por falta de presas… e de aliados. Se até Ciro Nogueira abandonou o barco, é porque não há salvação à vista.

Os ricos que outrora aplaudiam Bolsonaro em jantares luxuosos agora anseiam por sua prisão, não por compaixão, mas para iniciar a reconstrução o quanto antes. Para eles, é urgente criar um novo “nome viável”, alguém com ao menos uma fachada de diálogo – ou, no mínimo, um verniz mais sofisticado – para manter os eternos negócios com o erário público. O capital não vai apostar suas fichas em um condenado (ou quase). Enquanto o ex-capitão tropeça de audiência em audiência, os antigos financiadores respiram aliviados a cada notícia de sua queda. Bolsonaro, que já foi a grande esperança dos endinheirados, tornou-se um problema a ser escondido.

O capital entende que a força eleitoral está na direita e que o voto conservador frequentemente vai para qualquer nome bem embalado, capaz de transmitir uma imagem de “renovação” ou estabilidade. Foi assim com Collor, vendido como o “caçador de marajás”; com Aécio Neves, posicionado como o bastião da oposição ao PT em 2014; com João Doria, pintado como um gestor moderno; e até com Michel Temer, que assumiu como figura de transição após o golpe contra Dilma Rousseff. A eleição de Bolsonaro em 2018 não foi diferente: mais do que sua força eleitoral, foi a narrativa meticulosamente construída em torno de temas como combate à corrupção e segurança pública que atraiu o eleitorado conservador.

O capital investe não em indivíduos, mas em projetos que assegurem seus interesses. Bolsonaro foi apenas mais um instrumento útil em determinado momento, assim como tantos outros nomes da direita que surgiram e desapareceram de acordo com as demandas do mercado e do cenário político.

As urnas mostram que Bolsonaro perdeu sua força com o eleitorado. Nas últimas eleições municipais, sua eficácia como cabo eleitoral foi um desastre notável. Além do fracasso no cenário político em geral, ele também não teve sucesso na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde nenhuma chapa bolsonarista saiu vitoriosa, refletindo sua irrelevância até entre grupos conservadores.

Para os eleitores tradicionais da direita, Bolsonaro é um presente de grego: pesado, incômodo e, principalmente, inútil. A direita tenta se reorganizar, mas já está claro que o ex-presidente não será o guia desse novo caminho. Ele é, na melhor das hipóteses, uma lembrança embaraçosa.

E a grande mídia?

Lembra da cobertura quase religiosa de Bolsonaro pela grande imprensa? Pois até isso acabou. Com exceção do Estadão, que insiste em segurar a alça do caixão, o resto da grande mídia tem mantido, em relação ao zumbi, o mínimo esperado: um silêncio estratégico. Não há grande alarde sobre a possibilidade de prisão, nem defesas apaixonadas, apenas o silêncio cúmplice de quem quer virar a página. Para uma mídia que passou pano para tantos crimes ao longo dos anos, isso é um avanço considerável. O jogo mudou, e a imprensa parece ocupada demais tentando identificar quem será o próximo nome da direita a ocupar o espaço deixado por Bolsonaro.

O Brasil já é pós-Bolsonaro.

Bolsonaro é um zumbi que se arrasta de uma audiência judicial à outra e, nos intervalos, tenta exibir uma força eleitoral que já não possui (e provavelmente nunca teve).

A conclusão é simples: Bolsonaro já foi descartado. Hoje é um peso morto, abandonado à própria sorte, da mesma forma que sempre abandonou seus ex-aliados. O ex-presidente, que um dia dominou manchetes e polarizou o debate nacional, agora é uma sombra sem relevância real.

A direita tradicional quer se reorganizar, os empresários buscam alguém que pareça confiável, e a grande mídia já escolheu desinflar Bolsonaro. Como sempre, a Faria Lima tem pressa: quer que o zumbi seja confinado em alguma masmorra de onde não possa escapar.

Xandão, pode levar o elemento ao xadrez, sem receios. Não haverá um único protesto, muito pelo contrário, haverá muita comemoração.