Algo deu errado depois das fotos de Bolsonaro com os irmãos Miranda. Por Moisés Mendes

Atualizado em 24 de junho de 2021 às 22:00

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia

Por Moisés Mendes

Os irmãos Miranda tiraram duas fotos com Bolsonaro, todos com roupa esporte, no encontro de 20 de março no Alvorada. A reunião foi num sábado, sem registro em agenda, como tantas outras que Bolsonaro deve ter em fins de semana.

Mas algo deu errado na conversa sobre as denúncias em torno da vacina Covaxin. As fotos, com cada um dos irmãos sozinho ao lado de Bolsonaro, mostram que um deve ter feito a foto do outro.

Luís Ricardo Miranda, o servidor do Ministério da Saúde, fotografou o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e vice-versa, no mesmo cenário. Se não fosse assim, os dois estariam em selfie na mesma foto com Bolsonaro. Não se imagina que os dois tenham sido fotografados por uma ema.

É possível que ninguém mais estivesse por perto, para pelo menos fazer a foto do trio na mesma imagem. Bolsonaro está sério, mas aparentemente à vontade.

E aí surgem as perguntas que o jornalismo deve perseguir, para que se entenda o que aconteceu. As fotos foram feitas depois da conversa, como confirma o servidor público.

Há nesse detalhe uma informação relevante: Bolsonaro não se incomodou com o resultado da visita dos irmãos, ou não teria feito as fotos com ar tranquilo.

Mas em 31 de março, 11 dias após a reunião, o servidor denuncia formalmente ao Ministério Público a suspeita de superfaturamento, lobby forçado e corrupção na compra da vacina indiana. Sinal de que alguma coisa não teria funcionado depois do encontro com Bolsonaro.

Um assessor de Odorico Paraguaçu talvez não cometesse o erro que Bolsonaro cometeu nesse encontro, por soberba possivelmente combinada com apavoramento e pressa.

Bolsonaro deve ter sido informado de que os irmãos andavam com a bomba em Brasília. E a bomba poderia estourar no colo de um coronel (ou mais de um, já que são tantos no Ministério da Saúde) envolvido nas pressões pela compra da vacina.

Além dos danos da CPI, do fracasso das motociatas e da pressão das ruas, apareciam agora a Precisa dos amigos, um contrato de R$ 1,6 bilhão, um coronel e dois irmãos impulsivos e nervosos. Bolsonaro deve ter dito: deixa comigo.

Mas o roteiro não saiu como o previsto e deve ter acontecido o desentendimento entre os três. Talvez porque Bolsonaro já soubesse de detalhes do rolo e estivesse apenas tentando dar um para-te-quieto nos irmãos.

Dizem que Bolsonaro tem método, que é estrategista com raciocínio lógico de militar. Os militares sabem que Bolsonaro é um corpo carregando uma cabeça desgovernada que anda no lançante, como provam todas as suas atitudes.

Essa cabeça chamou os irmãos para uma arapuca em que o próprio Bolsonaro se meteu ao ouvir a denúncia, ao engavetá-la e, agora, ao tentar calar a boca dos irmãos com recados de Onyx Lorenzoni e Eduardo Bolsonaro.

Bolsonaro ouviu um deputado federal e um servidor público ocupante do importante cargo de chefe de Importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Não recebeu um amigo vereador de Rio das Ostras para provar a picanha de R$ 1,6 mil.

O erro, por autoconfiança exagerada ou por não confiar em ninguém, foi esse. Bolsonaro não tinha, como sempre acha que tem, o controle da situação.

O que foi conversado não evoluiu como ele pretendia, e o caso virou a confusão da Precisa, a partir do momento em que os irmãos decidiram retornar ao saloon atirando.

Se fosse para apenas ter as informações e agir, Bolsonaro não precisaria de uma conversa secreta com os irmãos, com todos os riscos envolvidos nessa interação explosiva.

Poderia receber todas os dados e documentos pelos assessores e não deixaria digitais e rastros no caso Precisa. E que os subalternos cuidassem dos irmãos. Mas Bolsonaro tentou e não conseguiu calar ou pelo menos acalmar os Miranda.

Podemos estar diante do grande faroeste da era Bolsonaro, com personagens inimagináveis, como sempre acontece em situações semelhantes.

A ameaça de Onyx Lorenzoni é para ser levada a sério. Que Deus proteja os irmãos Miranda, se possível com a ajuda das instituiçõesOs irmãos Miranda tiraram duas fotos com Bolsonaro, todos com roupa esporte, no encontro de 20 de março no Alvorada. A reunião foi num sábado, sem registro em agenda, como tantas outras que Bolsonaro deve ter em fins de semana.

Mas algo deu errado na conversa sobre as denúncias em torno da vacina Covaxin. As fotos, com cada um dos irmãos sozinho ao lado de Bolsonaro, mostram que um deve ter feito a foto do outro.

Luís Ricardo Miranda, o servidor do Ministério da Saúde, fotografou o deputado Luís Miranda (DEM-DF) e vice-versa, no mesmo cenário. Se não fosse assim, os dois estariam em selfie na mesma foto com Bolsonaro. Não se imagina que os dois tenham sido fotografados por uma ema.

É possível que ninguém mais estivesse por perto, para pelo menos fazer a foto do trio na mesma imagem. Bolsonaro está sério, mas aparentemente à vontade.

E aí surgem as perguntas que o jornalismo deve perseguir, para que se entenda o que aconteceu. As fotos foram feitas depois da conversa, como confirma o servidor público.

Há nesse detalhe uma informação relevante: Bolsonaro não se incomodou com o resultado da visita dos irmãos, ou não teria feito as fotos com ar tranquilo.

Mas em 31 de março, 11 dias após a reunião, o servidor denuncia formalmente ao Ministério Público a suspeita de superfaturamento, lobby forçado e corrupção na compra da vacina indiana. Sinal de que alguma coisa não teria funcionado depois do encontro com Bolsonaro.

Um assessor de Odorico Paraguaçu talvez não cometesse o erro que Bolsonaro cometeu nesse encontro, por soberba possivelmente combinada com apavoramento e pressa.

Bolsonaro deve ter sido informado de que os irmãos andavam com a bomba em Brasília. E a bomba poderia estourar no colo de um coronel (ou mais de um, já que são tantos no Ministério da Saúde) envolvido nas pressões pela compra da vacina.

Além dos danos da CPI, do fracasso das motociatas e da pressão das ruas, apareciam agora a Precisa dos amigos, um contrato de R$ 1,6 bilhão, um coronel e dois irmãos impulsivos e nervosos. Bolsonaro deve ter dito: deixa comigo.

Mas o roteiro não saiu como o previsto e deve ter acontecido o desentendimento entre os três. Talvez porque Bolsonaro já soubesse de detalhes do rolo e estivesse apenas tentando dar um para-te-quieto nos irmãos.

Dizem que Bolsonaro tem método, que é estrategista com raciocínio lógico de militar. Os militares sabem que Bolsonaro é um corpo carregando uma cabeça desgovernada que anda no lançante, como provam todas as suas atitudes.

Essa cabeça chamou os irmãos para uma arapuca em que o próprio Bolsonaro se meteu ao ouvir a denúncia, ao engavetá-la e, agora, ao tentar calar a boca dos irmãos com recados de Onyx Lorenzoni e Eduardo Bolsonaro.

Bolsonaro ouviu um deputado federal e um servidor público ocupante do importante cargo de chefe de Importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde. Não recebeu um amigo vereador de Rio das Ostras para provar a picanha de R$ 1,6 mil.

O erro, por autoconfiança exagerada ou por não confiar em ninguém, foi esse. Bolsonaro não tinha, como sempre acha que tem, o controle da situação.

O que foi conversado não evoluiu como ele pretendia, e o caso virou a confusão da Precisa, a partir do momento em que os irmãos decidiram retornar ao saloon atirando.

Se fosse para apenas ter as informações e agir, Bolsonaro não precisaria de uma conversa secreta com os irmãos, com todos os riscos envolvidos nessa interação explosiva.

Poderia receber todas os dados e documentos pelos assessores e não deixaria digitais e rastros no caso Precisa. E que os subalternos cuidassem dos irmãos. Mas Bolsonaro tentou e não conseguiu calar ou pelo menos acalmar os Miranda.

Podemos estar diante do grande faroeste da era Bolsonaro, com personagens inimagináveis, como sempre acontece em situações semelhantes.

A ameaça de Onyx Lorenzoni é para ser levada a sério. Que Deus proteja os irmãos Miranda, se possível com a ajuda das instituições