ALGUÉM PRECISA acalmar Merval Pereira, colunista do Globo.
Que estivéssemos todos apreensivos há oito anos com a iminente vitória de Lula é compreesível. Ninguém sabia o que o PT iria fazer ao chegar enfim ao poder. Lula não vai passar para a história como um grande presidente. Não destruiu a estabilidade construída pelo seu antecessor, FHC, mas não foi capaz de dar ao país uma velocidade comparável à da China e mesmo à da Índia.
Isto é fato.
A mais inteligente observação que vi a esse respeito é que Dilma não terá, ao contrário de Lula, a sorte de herdar o legado de um grande presidente. Foi um professor de Harvard que disse isso à Folha de S. Paulo. Lula foi, sob certo aspecto, frustrante, mas não ateou fogo à República, como muitos temiam. Incluo-me entre estes.
Agora: o que não dá, passadas duas administrações do PT, é mais uma vez temer — sincera ou insinceramente — o apocalipse. O debate fica raso. Não convence ninguém.
Num artigo no Globo, Merval sugere que o eleitor é mentalmente incapaz de entender a gravidade do caso da quebra do sigilo. “O tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro”, escreve Merval. Ele não considerou duas possibilidades. Uma é que o eleitor tenha achado que o barulho em torno do caso é exagerado. O eleitor é bem menos burro do que muitos acham. A segunda possibilidade é que a maior parte dos jornalistas não tenham conseguido mostrar, com clareza, que o caso é realmente grave.
Vejo no texto de Merval uma vontade de ser do contra. Antes, Lula era a grande ameaça. Agora, o problema está na sua ausência. A eventual presença de José Dirceu “num governo que não terá Lula para controlar seus “aloprados” assusta a classe média”, segundo Merval.
Não sabia, aqui em Londres, que a classe média dera mandato a Merval para que ele expressasse seu medo.
Antes, a chegada de Lula a Brasília era o perigo. Agora, é sua saída.
Já disse que gostaria de ver o PT na oposição, depois de oito anos de poder. É bom, é saudável. É uma pena que Serra tenha se revelado um candidato tão ruim com suas promessas grandiloquentes — um acinte ao legado de FHC. Alternância no poder renova os ares . Mas com argumentos como estes de Merval os eleitores dificilmente serão convencidos a mudar de opinião e votar na oposição.