
A bancada ruralista, majoritariamente ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro, manifestou preocupação com os impactos econômicos e políticos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. Internamente, deputados e senadores do setor agropecuário admitem constrangimento diante do fato de que a medida foi motivada por um aliado político, Donald Trump, sob justificativa de que Bolsonaro estaria sendo alvo de perseguição judicial no Brasil.
O tarifaço, que entra em vigor em 1º de agosto, atinge diretamente exportações de carne, café e laranja. Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) defendeu uma “resposta firme e estratégica” e intensificação da diplomacia, mas evitou críticas abertas à família Bolsonaro. O presidente da FPA, Pedro Lupion (PP-PR), responsabilizou o governo Lula pelo desgaste nas relações com os EUA, citando declarações do presidente sobre uma nova moeda para o comércio internacional e apoio a regimes considerados autoritários.
Apesar disso, o impacto comercial da medida afeta diretamente empresários e produtores alinhados ao bolsonarismo. Parlamentares reconhecem, nos bastidores, o dilema de manter o vínculo político com Bolsonaro enquanto seus redutos eleitorais sofrem com prejuízos econômicos. Muitos foram eleitos com apoio do ex-presidente, sobretudo em estados como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem atuado para conter os danos e buscar novos mercados. Na última semana, classificou como “indecente” a tarifa de Trump e disse já estar em contato com entidades do setor. Fávaro, considerado moderado e com trânsito entre ruralistas, tenta intermediar uma reação técnica, sem escalar o conflito diplomático.
Parlamentares e associações defendem que o governo evite confrontos diretos, mas mantenha respaldo jurídico. Um dos instrumentos é a Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada este ano e relatada pela senadora Tereza Cristina (PP-MS). A legislação permite ao Brasil adotar sanções comerciais contra países que afetem a competitividade nacional, inclusive com suspensão de concessões e investimentos.
Com os EUA sendo o segundo maior parceiro comercial do Brasil e um dos principais destinos do agronegócio, especialistas apontam que a ruptura exigirá diversificação urgente de mercados. Apesar da tentativa de manter a retórica neutra, o embaraço no setor evidencia um racha entre a lógica política do bolsonarismo e os interesses econômicos de sua base ruralista.