Aliados detonam Bolsonaro nos bastidores e dizem que prisão domiciliar deve demorar

Atualizado em 24 de novembro de 2025 às 12:46
O ex-presidente Jair Bolsonaro na casa em que cumpria prisão domiciliar, em Brasília. Foto: Sergio Lima/AFP

Aliados de Jair Bolsonaro têm repetido publicamente a defesa do ex-presidente, mas reservadamente admitem desconforto com sua tentativa de violar a tornozeleira eletrônica. Embora sustentem a narrativa de “alucinação”, muitos avaliam que a gravação feita na madrugada de sábado não corresponde à ideia de alguém em “certa paranoia”.

Para aliados ouvidos pelo blog do Valdo Cruz no g1, o episódio enfraquece a estratégia jurídica e expõe Bolsonaro a desgastes evitáveis. A prisão foi mantida por votação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda (24).

Os ministros não consideraram os transtornos psicológicos alegados pela defesa no julgamento do plenário virtual. Alexandre de Moraes, relator do caso, apontou que Bolsonaro tentou romper o equipamento de forma consciente, sem sinais de perda de lucidez. A gravação feita pela diretora-adjunta do Cime, Rita de Cássia, reforçou essa percepção.

Segundo aliados, o melhor cenário no curto prazo é Bolsonaro permanecer em uma sala especial da Polícia Federal enquanto aguarda o julgamento de um novo pedido de domiciliar, que só deve ocorrer após o início da execução da pena. Eles reconhecem que, sem respaldo do STF, a estratégia depende de uma mudança de ambiente jurídico que ainda não se desenha.

Tornozeleira de Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Investigadores apontam que Bolsonaro apresentou versões contraditórias sobre o que ocorreu. Em um momento, diz que a tornozeleira foi danificada ao esbarrar em uma escada; em outro, admite ter usado o ferro de solda.

Também alternou explicações entre curiosidade, tentativa deliberada e estado de alucinação por acreditar que havia uma escuta no equipamento. Há divergência ainda sobre o horário em que começou a tentar romper o dispositivo.

Essas inconsistências, segundo fontes ligadas à apuração, tornam mais difícil sustentar a narrativa de um surto psicótico. Mesmo assim, a defesa apresentou laudos médicos para reforçar essa tese e tenta convencer os ministros do Supremo a flexibilizar o regime. A intenção dos advogados é utilizar os documentos como argumento adicional para um futuro pedido de domiciliar.

Nesta segunda, termina o prazo para novos embargos de declaração, mas a defesa não deve recorrer nesta fase. A aposta agora é acelerar a execução da sentença, abrindo margem para discutir novamente a prisão domiciliar.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.