
Logo nas primeiras horas de sábado, aliados de Jair Bolsonaro procuraram ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter o quadro criado pela violação da tornozeleira eletrônica. Antes mesmo de todos os detalhes virem à tona, eles afirmaram que o ex-presidente não tinha intenção nem condições de fugir, tentando abrir espaço para derrubar a ordem de prisão preventiva.
Segundo a coluna de Malu Gaspar no jornal O Globo, aliados de Bolsonaro já vinham alegando que a tentativa de violar a tornozeleira foi motivada por um surto por medicamentos. Pessoas próximas ao ex-presidente disseram que ele estava isolado e sem acompanhamento adequado em casa, o que poderia ter contribuído para o comportamento descrito como inesperado.
Os ministros, porém, reagiram com surpresa ao que ouviam. Um deles chegou a classificar a situação como “bizarra”, e nenhum deu sinal de que pretendia ajudar na tentativa de reverter a decisão. Antes da crise da tornozeleira, o entorno de Bolsonaro acreditava que Moraes decretaria sua prisão entre terça (25) e quinta (27), para o início do cumprimento da pena de 27 anos e três meses por articular uma tentativa de golpe de Estado.
O comportamento do ex-presidente no fim de semana, no entanto, levou Moraes a antecipar os planos e a determinar a prisão preventiva. Bolsonaro admitiu a policiais penais que havia mexido no aparelho durante a madrugada.

Inicialmente, Bolsonaro afirmou que havia esbarrado na tornozeleira enquanto descia a escada de casa, no Jardim Botânico. Depois, mudou a versão e admitiu ter usado um ferro de solda para tentar abrir o dispositivo. O relatório da diretora-adjunta da administração penitenciária do DF, Rita Gaio, descreveu que não havia sinais de impacto, mas marcas claras de queimadura em toda a circunferência do equipamento.
A sucessão de versões contraditórias dificultou o trabalho dos aliados, que já viam poucas chances de convencer Moraes a devolver o ex-presidente à prisão domiciliar. Mesmo os laudos médicos apresentados pela defesa para reforçar a tese de surto psicótico não surtiram o efeito esperado. O episódio passou a ser lido como agravante, não como atenuante.
Antes da decisão pela prisão preventiva, autoridades do Distrito Federal discutiam a possibilidade de Bolsonaro iniciar o cumprimento da pena no 19º Batalhão da Polícia Militar, conhecido como “Papudinha”, dentro do complexo penitenciário da Papuda. A chefe de gabinete de Moraes chegou a visitar o local no mês anterior para avaliar as condições das instalações.