Alimentos saudáveis, financiamento popular e cooperativismo: conheça a nova agroindústria do MST

Atualizado em 26 de julho de 2022 às 0:28
Agricultor do MST mostra milhos orgânicos Foto: Juliana Barbosa

Foi inaugurada em Londrina, no Assentamento Eli Vive I, na última sexta feira, a agroindústria de derivados de milho livre de transgênicos da Cooperativa Agroindustrial de Produção e Comercialização Conquista (Copacon).

Com capacidade de beneficiamento de 24 toneladas de milho por dia, a agroindústria já assegura a produção de fubá, farinha de milho biju, canjica amarela e canjiquinha xerém. Os resíduos do milho serão transformados em ração para suínos e bovinos. A meta é que seja produzida 1 milhão de toneladas de derivados do cereal por ano.

De acordo com o presidente da Copacon, Fábio Herdt, a meta é aumentar a gama de produtos em cinco anos, trazendo ao portfólio da empresa a quirerinha, o flocão e a canjica branca. “A expectativa é que a gente tenha todos esses produtos, que além de muito gostosos, que sejam agroecológicos, com capacidade de venda e com preço justo e de fácil acesso para toda população”. Herdt, aliás, é membro de uma das 501 famílias assentadas na comunidade.

As famílias assentadas no Eli Vive têm grande preocupação em avançar na preservação e reflorestamento da área, e são guardiãs de mais de 100 minas d’água. Já foram plantadas mais de 10 mil árvores frutíferas, e ainda este ano, cerca de 40 mil mudas serão plantadas como parte do Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis.

A inauguração coroa um projeto iniciado cinco anos atrás e representa um avanço na organização da comunidade, que optou pelo cooperativismo como pilar de seu desenvolvimento econômico.

A nova agroindústria do MST. Foto: Juliana Barbosa/Divulgação

O projeto teve custo de R$ 5 milhões de reais e foi financiado majoritariamente por recursos vindos do FINAPOP, o Programa de Financiamento Popular da Agricultura Familiar para Produção de Alimentos Saudáveis.

O QUE É O FINAPOP?

Frente às dificuldades enfrentadas com a falta de auxílio, créditos e políticas públicas produtivas, camponesas e camponeses do MST seguem fomentando soluções com o desafio de semear a terra e produzir alimentos saudáveis, sem veneno e por um preço justo.

Foi assim que surgiu em 2020, o movimento conhecido como Financiamento Popular da Agricultura Familiar (Finapop), com o apoio do economista Eduardo Moreira e João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia, que se tornaram agenciadores da captação desse tipo de  recursos que beneficiam a produção das cooperativas da Reforma Agrária Popular, conquistadas pela organização popular forjada na luta do MST.

Por meio dessa iniciativa, dezenas de cooperativas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) já receberam investimentos que vêm sendo implementados nas tecnologias sociais e tecnológicas que beneficiam a produção dos produtos da Reforma Agrária Popular, como é o caso da Copacon.

Frente às dificuldades enfrentadas com a falta de auxílio, créditos e políticas públicas produtivas no atual governo, camponesas e camponeses do MST seguem fomentando soluções com o desafio de semear a terra e produzir alimentos saudáveis, sem veneno e por um preço justo.

O ASSENTAMENTO ELI VIVE E SUA IMPORTÂNCIA PARA LONDRINA E REGIÃO

O assentamento Eli Vive foi criado em 2009 e é a maior área de Reforma Agrária em região metropolitana do país, com seus 7.500 hectares. Nele, as famílias ali residentes produzem alimentos para o auto sustento e a venda, destacando-se , além do milho, café, hortaliças, frutas e produtos de panificação.

Na última safra, a cooperativa comercializou 15 mil sacas de milho, 10 mil de soja e 10 mil de feijão preto e carioquinha. Outras 15 toneladas de alimentos são entregues na Central de Abastecimento (Ceasa) toda semana, além da comercialização de 80 mil litros de leite por mês.

Parte dessa produção transforma-se em alimentação para os alunos das mais de 100 escolas públicas da região de Londrina: por semana, são entregues 10 toneladas de alimentos para o Programa de Alimentação Escolar.

O COOPERATIVISMO COMO CHAVE PARA O DESENVOLVIMENTO

De acordo com o Incra,  assentamento de reforma agrária é um conjunto de unidades agrícolas  instaladas pelo órgão. Cada uma dessas unidades, chamada de parcelas ou lotes, é destinada a uma família de agricultor ou trabalhador rural sem condições econômicas de adquirir um imóvel rural.

A adoção do modelo cooperativista para a produção nessas áreas cria o ambiente econômico propício para a geração de renda e de empregos no campo. A Copacon é uma das 60 cooperativas criadas em áreas destinadas à reforma agrária no Paraná, que atuam em setores como o de laticínios, padarias e agroindústrias de beneficiamento.

A Copacon foi criada pelas famílias assentadas para otimizar a produção e a comercialização dos alimentos. Atualmente, cerca de 360 estão associadas à cooperativa, de 13 municípios diferentes. Além da renda gerada para os produtores (as), mais de 20 trabalhadores (as) todos(as) assentados e filhos de assentados são funcionários da cooperativa.

Ao todo, mais de 50 produtos são industrializados em áreas da Reforma Agrária, entre café, hortifrúti, erva mate, mel, suco, milho e grãos em geral, e derivados de leite e da cana-de-açúcar.

Além da venda ao mercado convencional, em feiras e com venda direta ao consumidor, a produção chega também ao PNAE. Atualmente as cooperativas e associações da  Rede de reforma Agrária são responsáveis pela execução de 22% dos recursos destinados à compra de merenda escolar da Agricultura Familiar pelo estado.

Os alimentos da Reforma Agrária chegam a mais de mil escolas estaduais, garantindo refeições saudáveis a cerca de um milhão alunos da rede pública. Alimentos como feijão e arroz chegam a quase todas as escolas do Paraná.

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