Alpargatas: ações da dona da Havaianas caem R$ 200 milhões após boicote bolsonarista

Atualizado em 23 de dezembro de 2025 às 8:13
Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Fernanda Torres e Nikolas Ferreira (PL-MG). Foto: Reprodução

As ações da Alpargatas, controladora da Havaianas, perderam cerca de R$ 200 milhões em valor de mercado após a repercussão de um novo comercial da marca e o início de um boicote incentivado por políticos bolsonaristas.

Por volta das 16h53 desta segunda-feira, os papéis da Alpargatas (ALPA4) recuavam 2,56%, negociados a R$ 11,42. Mais cedo, às 16h20, a queda chegou a 3,41%. A desvalorização reduziu em cerca de R$ 200 milhões o valor de mercado da empresa.

A queda ocorreu após a divulgação da propaganda estrelada por Fernanda Torres, acusada por conservadores de conter uma suposta indireta política.

No vídeo, a atriz diz não querer que o público comece o ano com o “pé direito”, sugerindo começar “com os dois pés”, frase que foi interpretada por bolsonaristas como provocação política.

“Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você, depende de sorte. O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo, de corpo e alma, da cabeça aos pés. Havaianas, todo mundo usa, todo mundo ama”, diz Fernanda no comercial.

Boicote incentivado por bolsonaristas

Após a divulgação do vídeo, políticos de direita passaram a pedir boicote à Havaianas. Cassado por ultrapassar o limite de faltas na Câmara, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou um vídeo jogando um par de chinelos no lixo.

“Eu achava que isso aqui era um símbolo nacional. Já vi muito gringo com essa bandeirinha do Brasil no pé, só que eu me enganei”, disse ele, antes de classificar Fernanda Torres como alguém “declaradamente de esquerda”.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) também ironizou a marca com um trocadilho: “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”.

Outros parlamentares bolsonaristas se somaram às críticas. O vereador Gilson Machado Filho (PL-PE) afirmou que começaria 2026 com o “pé direito em outra marca”, enquanto o deputado Luiz Lima (NOVO-RJ) declarou que “publicidade é escolha e consumo também”.

Donos da Ipanema, rival das Havaianas, doaram R$ 2 milhões a Bolsonaro

Também voltou a circular a informação de que os principais acionistas da Grendene — controladora de marcas como Ipanema, Melissa, Rider e Cartago, concorrentes da Havaianas — fizeram doações à campanha de Jair Bolsonaro.

Os irmãos Alexandre Grendene Bartelle e Pedro Grendene Bartelle estão entre os fundadores da companhia. Alexandre detém 44,14% das ações, enquanto Pedro possui 13,89%. Segundo registros do DivulgaCand, sistema da Justiça Eleitoral, ambos doaram R$ 1 milhão cada para a campanha de Bolsonaro em 2022, totalizando R$ 2 milhões.

Em 2018, quando Bolsonaro disputou a Presidência pela primeira vez, os dois também contribuíram financeiramente, embora em valores bem menores. Naquele ano, cada um doou R$ 3 mil à campanha.

Os irmãos Alexandre e Pedro Grendene. Foto: Reprodução