Alvo da PF, CEO da Empiricus foi sócio de site lavajatista e chamava Moro e Dallagnol de “heróis”

Atualizado em 25 de junho de 2023 às 12:47
Felipe Mirando, da Empiricus, alvo da PF

A Polícia Federal esteve na terça-feira, dia 20, na sede das empresas de investimentos Empiricus e TC (ex-Traders Club).

Foram apreendidos computadores do CIO (Chief Investment Officer), estrategista-chefe da Empiricus e co-CEO, Felipe Miranda. O motivo da operação é um vídeo apócrifo contra o TC — que, por sua vez, é investigado por possível manipulação de preços no mercado financeiro.

A trajetória da Empiricus se mistura com a da Lava Jato. Encapsula o faroeste do Brasil dos últimos dez anos e a ascensão e queda de um grupo de picaretas travestidos de paladinos dos bons costumes.

Em 2016, a Empiricus comprou 50% do site Antagonista, fundado pelos ex-jornalistas Mario Sabino e Diogo Mainardi. “Paramos de torcer, passamos a investir”, afirmaram Miranda e os sócios num comunicado. O valor divulgado oficialmente foi de 5 milhões de reais.

O Antagonista era o maior canal de vazamentos da Lava Jato. No auge, era citado com certa frequência no Jornal Nacional. Tudo o que Sergio Moro, Deltan Dallagnol e cia. passavam era publicado sem qualquer checagem ou apuração.

Num episódio particularmente patético, Mainardi gravou um vídeo em que implorava a “amigos” de Curitiba, ajoelhado, que lhe mandassem uma “planilha” da conta de Lula no “setor de propinas da Odebrecht”. A fanfic viralizou pelo ridículo.

“Os anúncios pagos pela Empiricus no Google e Facebook utilizam como estratégias de promoção e de atração de clientes ataques a governos de esquerda e outras provocações políticas. Entre os exemplos de promoção do antipetismo constatados na eleição presidencial de 2014 estavam ‘Se proteja se a Dilma ganhar’ e ‘E se o Aécio Neves ganhar? Que ações devem subir se o Aécio ganhar a eleição?'”, apontou o Le Monde Diplomatique numa matéria.

“Essas propagandas, realizadas durante o período eleitoral, tiveram contra si liminar suspendendo a veiculação, mas acabaram liberadas em julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao ser acatada recomendação do ministro Gilmar Mendes”.

Felipe Miranda era tratado como uma espécie de enfant prodige dos negócios. Ousadia com alegria. Ao Globo, disse que só por meio de “tiro, porrada e bomba” dá para “democratizar os investimentos no Brasil”. “A gente não respeita a CVM como nosso regulador”, declarou.

Exaltou Moro e Dallagnol em textos pretensiosos, em tom de coach quântico e com frases retiradas do Google de autores que nunca leu.

Quando os diálogos da Vaja Jato surgiram, ele defendeu o então juiz alegando que ele estava dando apenas “certas diretrizes”. O título do texto era “Meus heróis morreram de overdose — por uma moral da ambiguidade”.

“Descobrimos que Sergio Moro e Deltan Dallagnol não são heróis perfeitos? Que eles também conversam — às vezes, até falam mais do que deveriam e se emocionam diante da descoberta do maior esquema de corrupção da história brasileira?”, escreveu.

Em 2020, vendo o bardo afundar, a Empiricus encerrou sua participação no Antagonista. Segundo o colunista Lauro Jardim, foi “por meio de uma troca de ações entre os sócios da Empiricus, que está em meio à uma reestruturação societária”.

Aquele mundo ruiu. Dallagnol foi cassado, Moro é um jeca que espalha fake news no Senado, Mainardi está esperando até hoje, em Veneza, a planilha que, segundo ele, lhe prometeram — e que talvez esteja com Felipe Miranda.

No meio do caminho, muita gente ganhou dinheiro fazendo os outros de otários.