Ameaçada de morte, antropóloga Débora Diniz será incluída em programa de proteção

Atualizado em 25 de julho de 2018 às 13:04
Débora Diniz. Imagem: TV Brasil

Publicado originalmente no site Justificando

Enquanto aguarda inclusão do nome no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos do governo federal, a professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, Débora Diniz, já recebe medida protetiva do programa, por conta das ameaças de morte que sofreu.

Devido à atuação pelos direitos reprodutivos das mulheres, nos âmbitos social e acadêmico, a especialista passou a ser ameaçada por telefone e nas redes sociais, chegando a ser hostilizada por grupos contrários às ideias dela, como a descriminalização do aborto. Após registrar as ameaças na Polícia Civil, Débora Diniz se mudou do Distrito Federal.

A professora universitária Caroline Lima é integrante do ANDES, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, e conta que o caso preocupa a categoria. Ela explica que esse tipo de ameaça é movido por preconceito.

Doutora em Antropologia e especialista em BIOÉTICA, Débora Diniz foi convidada pela Ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, para fazer parte de audiências públicas, em agosto deste ano, a respeito do aborto. Para a socióloga Jaqueline Pitangui, o embate de ideias é aceitável, mas ameaças não.

O Ministério Público do Trabalho (MPT), publicou nota de repúdio às ameaças. Nela, o grupo de trabalho sobre Gênero da Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Gênero disse que “calar vozes femininas é uma tentativa de desequilibrar o debate e gera preocupação.

O subprocurador do trabalho, Maurício de Mello, assinou a nota junto com cinco procuradoras e alerta para o fato de que as ameaças impediram que a professora exercesse a atividade.

A UnB, também em nota, repudiou qualquer manifestação de ódio e intolerância e disse que acompanha a situação desde o início das ameaças. Segundo a instituição, o caso vai ser debatido no Conselho de Direitos Humanos da universidade.

O ANIS instituto de bioética, do qual Débora Diniz faz parte como pesquisadora, informou que a professora não fala sobre o assunto, por segurança, mas está bem e segura.

A ONU, Organizações das Nações Unidas, no Brasil, também repudiou, em nota, as ameaças. Diniz foi lembrada, no texto, como “internacionalmente reconhecida” pelo trabalho. A entidade considera “inaceitáveis” os ataques e ameaças feitas à professora e lembrou que o caso ocorre em um contexto de “crescente número de assassinatos de defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil”.

Débora Diniz é graduada em Ciências Sociais e Doutora em Antropologia, pela Universidade de Brasília. Possui três pós-doutorados: no Brasil, Canadá e nos Estados Unidos e atuação em mais de vinte entidades, incluindo universidades de todo o mundo, ministérios, fundações, institutos e conselhos.

Débora está sofrendo ameaças justamente por estar no caminho certo”

Luciana Boiteux é uma das autoras da ação a favor da legalização do aborto que será discutida em audiência aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) no mês de agosto, de que Débora Diniz também está arrolada para participar. Em entrevista ao Justificando, ela afirmou que acredita que as ameaças à antropóloga demonstram o quão acuados estão se sentindo certos grupos conservadores em um momento em que as discussões sobre o aborto avançam tanto no cenário nacional quanto internacional.

“Esses grupos estão se sentindo cada vez mais ameaçados, e tendem a reagir das formas mais diversas. Eu declaro toda a minha solidariedade à Débora, se ela está sofrendo isso é justamente porque ela está no caminho certo”.