Ameaças e cobranças: as mensagens do grupo ligado a articuladores do PRTB de Marçal e PCC

Atualizado em 4 de setembro de 2024 às 9:09
Pablo Marçal e Leonardo Avalanche. Foto: reprodução

Uma investigação da Polícia Civil de São Paulo revelou mensagens e diálogos que mostram ameaças, cobranças e detalhes sobre um grupo de antigos aliados de Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB, partido do empresário Pablo Marçal, segundo informações do Estadão.

O grupo é acusado de trocar carros de luxo por cocaína para o Primeiro Comando da Capital (PCC), financiando o tráfico de drogas em São Paulo e na Paraíba e compartilhando os lucros.

Entre os membros da organização criminosa estão Irmão Marginal, Coringa, Perturbado, Nariz, Festinha, Nobru e Buchecha, que supostamente têm ligações com Gordão e Tarcísio Escobar de Almeida, ex-aliados de Avalanche e articuladores informais da legenda de Marçal.

A investigação da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (DISE), da Delegacia Seccional de Mogi das Cruzes, teve início em 6 de agosto de 2020, após a apreensão de uma arma, drogas, um telefone celular e um pen drive com Francisco Chagas de Sousa, conhecido como Coringa, dono de uma adega na zona leste de São Paulo. O pen drive continha material relacionado ao controle de integrantes do PCC.

A apuração também envolve Tarcísio Escobar de Almeida, ex-presidente estadual do PRTB, e Júlio César Pereira, conhecido como Gordão, sócio de Escobar e também participante de eventos do PRTB. Gordão e Escobar eram considerados homens de confiança de Leonardo Alves Araújo, conhecido como Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB e apoiador da candidatura de Marçal.

Novos áudios

Novos áudios obtidos pela polícia revelam uma conversa entre o acusado Rafael Silva Peixoto, conhecido como Rafinha ou Buchecha, e Gordão, ocorrida à 0h44 do dia 5 de dezembro de 2020. Segundo a polícia, ambos teriam “funções de comando” na organização criminosa.

No áudio, Gordão discute um incidente em que foi “barrado por um ‘vapor’ (funcionário de um ponto de venda de droga) na biqueira de Magrão (Helder Alves Barbosa)”. Gordão tirou satisfação com Barbosa “indignado com o comportamento do ‘vapor’, o qual não poderia ter agido daquela forma dado o seu posto no Comando”.

Transcrição de conversa entre Rafinha e Magrão mostrando a relação dos acusados com o PCC. Foto: Reprodução

Para a polícia, esse diálogo é mais uma evidência da participação de Rafinha e Gordão no tráfico de drogas na região de Guaianases, na zona leste de São Paulo, onde Magrão estaria envolvido na venda de entorpecentes. Em 4 de janeiro de 2021, Rafinha e Magrão também conversaram com outro membro do grupo, Albert Teles da Silva, conhecido como Perturbado.

Carros de luxo

Segundo a polícia, o grupo envolvido trocava carros de luxo por cocaína com Marcos Francisco de Oliveira, conhecido como Gordão de Umuarama. Conversas de Oliveira foram interceptadas pela polícia, incluindo diálogos com um criminoso identificado como Irmão Marginal, que também está implicado no caso.

A perícia revelou que, no celular de Gordão, há conversas que confirmam seu total envolvimento com a organização criminosa, mostrando que ele era cobrado por prazos e por “irmãos” da facção. Irmão Marginal é um dos responsáveis por essas cobranças e aparece em duas conversas registradas em 2021.

Trecho da transcrição de conversa do Irmão Marginal com outro integrante da organização criminosa. Foto: Reprodução

Outro membro interceptado pela polícia é Felipe Jerônymo Oliveira, conhecido como Nariz. Em 1º de fevereiro de 2021, Nariz foi liberado da prisão após responder por tráfico de drogas, tendo sido preso em flagrante pelo Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc).

A investigação de Mogi sugere que Nariz seria sócio de Rafinha e que ambos planejavam investir na compra de veículos para alugá-los a motoristas de aplicativos, com o objetivo de lavar dinheiro do tráfico.

No dia 25 de fevereiro de 2021, Nariz enviou uma mensagem para Rafinha dizendo: “Achei o mano que gravou lá os vídeo do final do ano. Ele tá sequestrado e vamo tá esperando só vc pra dar continuidade (sic)”. Nariz finaliza com um “kkk”. Rafinha responde: “Já era, ‘pocas’ (ideias)”.

Conversa no aplicativo em que Rafinha trata de tribunal do crime e menciona vítima sequestrada. Foto: Reprodução

A polícia acredita que a mensagem se refere ao sequestro de uma vítima para julgamento pelo tribunal do crime, embora a identidade da vítima não tenha sido revelada. Pessoas executadas após esse julgamento geralmente são enterradas em cemitérios clandestinos.

Os dois continuaram discutindo assuntos da facção em 15 de março, quando falaram sobre um criminoso que estava devendo dinheiro aos traficantes. Nariz informou a Rafinha que conseguiu o telefone do “disciplina” para colocar “o Gordinho no prazo (lista de devedores do PCC)”. Rafinha respondeu: “Já era”. No mesmo dia, às 17h56, eles também discutiram o adiamento de uma entrega de drogas.

Rafinha e Gordão teriam mantido o comando de atividades no Jardim Lajeado e em Guaianases, bairros da zona leste de São Paulo, além de Mogi das Cruzes.