
No encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente Lula (PT) buscou posicionar-se como mediador da crise venezuelana, num momento em que Washington intensifica a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro. O encontro foi realizado na manhã deste domingo (26) em Kuala Lumpur, na Malásia, às margens da cúpula da Asean, que reúne as principais economias do Sudeste Asiático.
A mobilização de embarcações de guerra estadunidenses na costa venezuelana é vista por Brasília como uma provocação na região. O governo Lula mantém a posição contrária a intervenções estrangeiras em países vizinhos e defende o diálogo diplomático como caminho para a estabilidade.
Durante a conversa, Lula afirmou que “tarifas não são mecanismos de coerção” e destacou que “nações não se intimidarão diante de ameaças irresponsáveis”.
O comentário foi entendido como uma resposta direta ao aumento das tarifas determinado por Trump, que afetou exportadores brasileiros de aço, alumínio e produtos agrícolas. Segundo interlocutores, o petista pretende negociar a reversão parcial da medida nas próximas semanas, priorizando setores que dependem fortemente do mercado estadunidense.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, disse que Lula se colocou como um possível intermediador do conflito venezuelano, defendendo que o Brasil “pode atuar como protetor da paz na América Latina”, promovendo soluções diplomáticas e evitando confrontos diretos.

A tentativa de conciliar a soberania regional com um diálogo pragmático com Washington, porém, é vista por analistas como um dos maiores desafios da política externa brasileira neste momento.
Para o diplomata Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, a prudência deve guiar o Planalto diante do cenário. “O mais prudente seria esperar para ver se Trump toca no assunto. O Brasil, no melhor dos casos, ouviria e não falaria nada de imediato. Não faz sentido oferecer mediação”, disse.
Já Lucas Martins, especialista em História Americana e Estudos Globais da Temple University, avalia que o governo Trump enxerga a América Latina sob uma ótica da Guerra Fria, forçando países a se alinhar com os Estados Unidos ou com a China.
Segundo ele, em entrevista ao Globo, “os EUA podem condicionar concessões de tarifas ao Brasil a um alinhamento mais claro com os interesses americanos em detrimento de uma agenda chinesa. A postura do Brasil em relação à Venezuela e ao uso do dólar nas transações é crucial para as negociações com o governo dos EUA”.