Amelinha Teles, torturada pela ditadura, ao DCM: “Não pensava que fosse ver isso de novo”. Por Donato

Atualizado em 21 de outubro de 2018 às 14:09
Amelinha Teles, mulher que foi torturada pela ditadura. Foto: Mauro Donato/DCM

Poucas horas antes do TSE determinar a suspensão da propaganda de Haddad que retrata a afeição de Jair Bolsonaro pela prática de tortura e sua admiração pela ditadura militar, Amelinha Teles dava mais um exemplo de ativismo e persistência na luta pela democracia.

É Maria Amélia de Almeida Teles quem dá um emocionante depoimento em uma das propagandas do partido. Amelinha foi presa em dezembro de 1972 e submetida a sessões de torturas realizadas pelo major do exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi de São Paulo. Seus filhos pequenos foram sequestrados por um delegado e obrigados a ver os pais machucados.

Neste sábado de sol e resistência, quando vários movimentos se reuniram em torno do ‘Ele Não’ ao longo da avenida Paulista, Amelinha conversou com o DCM.

Protesto do #EleNão. Foto: Mauro Donato/DCM

O PT fez um teste entre eleitores bolsonaristas com aquela propaganda que traz seu depoimento sobre tortura. Ao final, alguns deles questionaram a veracidade do depoimento bem como ainda se mostram relutantes em admitir existência da ditadura…

Não acreditar em meu depoimento é ignorância. Esse mesmo depoimento consta dos autos de um processo que foi ganho pela minha família. O Ustra foi declarado torturador pelo Estado em primeira, segunda e terceira instâncias. É uma sentença transitada em julgado, é só fazer uma busca e ler os autos do processo. Saberão inclusive que não fui a única da minha família a ser torturada.

Como a senhora vê a perspectiva de uma volta da ditadura? Segundo pesquisas, 50% da população acreditam no risco.

Não pensava que fosse ver isso de novo. Mas que o risco é iminente, é. Está muito perto de nós. Por isso temos que nos manifestar, protestar contra a candidatura do capitão e que ganhe Haddad, que sabe dialogar com as pessoas. O outro não dialoga.

Como se sente ao ver um candidato como esse, que enaltece seu torturador, com chances reais de vitória?

É uma vergonha, me sinto indignada. Isso é muito ruim para o Brasil. Embora seja uma guinada mundial o que estamos vendo, a volta do fascismo, nós no Brasil temos que aprender a não deixar que eles peguem o poder. Fico muito preocupada, é muito perigoso.

Se já estivéssemos em 2019, e com o capitão sentado no Planalto, a senhora estaria com receio de estar aqui hoje?

Talvez, né. O nosso direito de manifestação não podemos entregar aos fascistas. Estaremos em risco. Não sei como será 2019, para mim é uma incógnita.