Amiga de Bia Doria é afastada pela segunda vez da gestão tucana. Por Donato

Atualizado em 9 de julho de 2020 às 10:18
Denise Abreu e Doria. Foto: Facebook

O efeito Bia Doria / Val Marchiori ainda causa dor de cabeça em João Doria. E o governador parece disposto a piorar a situação.

Para presidir o conselho do Fundo Social, que é o órgão responsável pelas políticas públicas voltadas à população em vulnerabilidade (como as pessoas que vivem em situação de rua), Doria nomeou Denise Abreu.

Para refrescar a memória do leitor: Denise Abreu foi pega no pulo em um dos maiores casos de escândalo da prefeitura paulistana.

No início de 2018, Denise Abreu era diretora do departamento de iluminação pública da Prefeitura de São Paulo, o Ilume. O vazamento de áudios expôs Denise.

As gravações traziam sua voz afirmando que uma das empresas que disputavam a PPP da Iluminação Pública pagava suborno para funcionários do seu departamento.

Os áudios revelavam que Denise daria preferência por uma empresa (a FM Rodrigues) na disputa em andamento, um contrato de nada menos que R$ 7 bilhões durante 20 anos. Era o maior contrato do mundo no gênero.

Denise ainda demonstrava ser inimiga de um concorrente, a Walks.

Batata. A FM Rodrigues venceu a disputa da PPP da Iluminação sem nem precisar enfrentar concorrentes já que João Doria excluiu a Walks, “inimiga” de Denise.

Tão logo o caso ganhou as manchetes, a Promotoria e a polícia fizeram busca e apreensão na casa de Denise.

A Corregedoria Geral do Município ouviu então de dois técnicos da informática do departamento de iluminação dirigido por Denise Abreu, que haviam recebido ordens para deletar tudo dos computadores.

Kaio de La Lastra Marquart, funcionário do Ilume, contou ter formatado o computador de Denise Abreu e apagado o disco rígido do computador de um assessor dela a pedido desse mesmo assessor, Luis Augusto Panadés.

Com o escândalo escancarado, João Doria exonerou Denise Abreu.

No final de 2018, o Ministério Público arquivou as investigações sobre suposto pagamento de propinas na licitação ultra bilionária por falta de provas, segundo a juíza.

Agora, na surdina, Doria tentou levar Denise novamente para debaixo de seu guarda-sol. Denise é amiga íntima de Bia Doria.

Sim, tentou, pois a revelação de que Denise Abreu estava à frente da presidência do conselho do Fundo Nacional gerou indignação em alas do governo e, questionado pela coluna Painel do jornal Folha de S.Paulo, Doria “mudou de ideia” e ontem mesmo o Diário Oficial trouxe outro nome para o posto, o de Francine Eugenio Lopes.

Estranho que alguém que tenha sido considerado inocente cause descontentamento em integrantes da equipe doriana e que ele tenha se apressado em fazer Denise Abreu submergir novamente.

Talvez haja relação com outros áudios vazados na mesma época. Se o caso Ilume está arquivado por falta de provas, outras conversas divulgadas davam conta da personalidade da ex-diretora.

Quando um homem morreu eletrocutado por ter encostado a mão em um poste, Denise foi flagrada em uma conversa na qual tentava jogar a culpa na FM Rodrigues, a mesma empresa que ela anteriormente lutava para privilegiar na licitação.

“Não chama de fio do Ilume, certo? Direi que são filigranas. Fio de iluminação pública. Se tudo der errado eu vou tacar na FM Rodrigues. Se eu já disser que o fio é da Ilume não é da FM. Então, num momento eu vou dizer: quem é o dono do fio? A FM Rodrigues, ela que instala os fios”, instruiu ela a Luis Augusto Panadés, sobre como se livrar da responsabilidade.

Isso, o mesmo Panadés que depois instruiu que tudo fosse apagado dos computadores quando estourou o escândalo de suborno.

Denise Abreu foi pré-candidata à prefeitura pelo PMB (Partido da Mulher Brasileira). Preferiu desistir e ser cabo eleitoral de Doria. Há tempos Doria tenta retribuir o apoio da amiga de sua esposa. Deu ruim mais uma vez.