
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, minimizou o possível impacto da escolha de Marco Rubio como secretário de Estado dos Estados Unidos nas negociações com o Brasil. Amorim afirmou que o perfil ideológico do novo representante americano “não preocupa” o governo brasileiro. Rubio, aliado do presidente Donald Trump, foi designado para conduzir as conversas sobre tarifas e sanções aplicadas a autoridades brasileiras. Com informações de Roseann Kennedy, da Coluna do Estadão.
Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, o governo considera que o telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump representou um avanço real no diálogo. A conversa, que durou cerca de 30 minutos na segunda-feira (6), foi descrita como “ótima” pelos republicanos. Lula pediu o fim da sobretaxa de 40% sobre importações brasileiras e a retirada de medidas restritivas contra membros do governo.
Apesar da postura cautelosa do Planalto, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro celebraram a indicação de Rubio, conhecido por críticas a figuras do Judiciário brasileiro. O secretário de Estado já havia se manifestado contra decisões do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relacionadas ao julgamento de Bolsonaro.
Entre os apoiadores do ex-presidente, o blogueiro Paulo Figueiredo, próximo ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ironizou a decisão do governo norte-americano. “Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem”, publicou nas redes sociais ao comentar a nomeação de Rubio.
Eu estou em breves férias familiares, mas acordei embasbacado vendo a imprensa comemorando porque Trump colocou MARCO RÚBIO para NEGOCIAR com o Brasil. Zero de avanço! O grau de desconexão com a realidade é patológico. Como disse: a luz no fim do túnel é um trem.
— Paulo Figueiredo (8) (@pfigueiredo08) October 6, 2025
De acordo com fontes da diplomacia brasileira, Rubio assumirá a condução direta das tratativas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A expectativa é de que o novo interlocutor participe de uma rodada de reuniões ainda neste mês.
O governo brasileiro avalia que a relação pessoal entre Lula e Trump pode abrir espaço para destravar barreiras comerciais impostas desde o governo anterior. Na visão do Itamaraty, a inclusão de Rubio na linha de negociação não altera os planos, mas exige atenção às pautas de interesse do agronegócio e da indústria.
Durante a conversa telefônica, Lula destacou que o Brasil é um dos três países do G20 com maior déficit comercial com os Estados Unidos. O presidente defendeu um acordo bilateral que permita equilibrar as relações e ampliar a cooperação tecnológica e energética.
No governo americano, Rubio é visto como figura de influência no Congresso e voz importante junto à base conservadora. Sua nomeação para o Departamento de Estado foi interpretada como tentativa de Trump de aproximar setores mais duros do Partido Republicano da política externa.

Já no Brasil, diplomatas avaliam que a interlocução com Rubio dependerá da capacidade de diálogo de Mauro Vieira, que tem histórico de bom relacionamento com figuras do governo americano. Fontes ligadas ao Itamaraty afirmam que a prioridade segue sendo reverter as sanções e evitar medidas punitivas a autoridades nacionais.
Celso Amorim reforçou que, apesar das divergências ideológicas, o Brasil seguirá empenhado em manter o canal diplomático aberto. “Não preocupa”, disse, ao resumir a posição do Planalto diante da nova configuração política em Washington.