Ana Carolina e o bolsonarismo de camarote. Por Nathalí

Atualizado em 25 de abril de 2022 às 15:06
Ana Carolina
A cantora Ana Carolina está indecisa – Foto: Reprodução

Tal qual o Estadão, a cantora Ana Carolina aparentemente considera votar ou não votar no único que pode derrubar Bolsonaro “uma escolha muito difícil”.

Em entrevista na segunda noite de desfiles na Sapucaí, a cantora declarou que “está no time dos indecisos”. Embora tenha certeza que “ele não” – e embora considere importante que artistas levantem bandeiras – a cantora não teve coragem de colocar-se como eleitora de Lula.

Quem, a essa altura, ainda não entendeu que estar contra Lula é estar a favor de Bolsonaro, de fato não entendeu o mínimo. Em tempos de polarização, não basta ser anti-Bolsonaro. É preciso ser pró-Lula.

De fato, a Rede Globo fez um trabalho impecável ao transformar o antipetismo em um fenômeno. Tão impecável que muita gente ainda não entendeu que, ao optar pelo antipetismo – ou pela indecisão, como gostam de chamar – abrem um espaço perigoso para a reeleição do pior presidente da história.

Ana declarou que “ainda falta uma série de coisas” para que se sinta segura ao escolher um nome.

De que coisas estaria falando? Mais cortes na educação? Mais escândalos de corrupção como a “rachadinha”? Mais incompetência ao escolher ministros? Mais crueldade com as mulheres – a quem Bolsonaro negou absorventes e dignidade? O que falta para que as pessoas topem votar em quem quer que possa derrubar Jair Bolsonaro?

Considerando que a terceira via acabou graças a Arthur do Val – e que Sérgio Moro não tem a menor chance diante do fenômeno Luís Inácio Lula da Silva – estar “indecisa” é ainda não saber se vai ajudar o país a sair desse buraco ou se vai jogar voto fora, e Ana Carolina sabe disso.

O que lhe faltou – o que falta a muitos – foi coragem. Declarar voto em Lula num país polarizado pode significar muitos problemas na carreira, mas ainda é uma obrigação moral de todo artista que se preze, sobretudo se esse artista for parte de minorias sociais, como é o caso de Ana Carolina, mulher lésbica.

Declarar-se, a essa altura, do “time dos indecisos”, mesmo afirmando que não votará em Bolsonaro, deixa ao público uma mensagem perigosa: a de que você pode não votar nem em Bolsonaro, nem em Lula, e ainda assim dormir tranquila.

Não, não pode.

O embate mais preciso – aliás, o único embate – é entre Lula e Bolsonaro. Se você é e continua sendo #EleNão, então só há um caminho para se livrar do asno que ocupa a presidência: votar – e declarar – o voto em Lula.

É essa gente “em cima do muro”, que nunca conseguiu se livrar do antipetismo, que vai acabar votando na maldita terceira via e desperdiçando votos em uma situação tão delicada.

Estar em cima do muro em um país devastado como o Brasil é pecado mortal pra quem se diz artista.

Pra ser artista de verdade, dona Ana, tem que ter coragem.