Analistas veem “derretimento” do bolsonarismo como elemento central das eleições 2020

Atualizado em 15 de novembro de 2020 às 19:56
Jair Bolsonaro. (Arquivo AFP)

Publicado originalmente no Brasil de Fato:

O “derretimento” do bolsonarismo, que se reflete no fracasso dos candidatos apoiados por Jair Bolsonaro (sem partido), é o principal significado político das eleições municipais 2020. Essa é a interpretação de comentaristas que conversaram com o Brasil de Fato, com a Rede Brasil Atual e com a TVT ao longo das transmissões deste domingo (15) de votação.

“Os únicos casos em que o bolsonarismo não saiu do páreo foram Fortaleza e Rio de Janeiro”, analisa Igor Felippe, membro da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do programa Central do Brasil. Nas duas capitais citadas, Capitão Wagner (PROS) e Marcelo Crivella (Republicanos), respectivamente, foram apoiados por Bolsonaro e disputarão o segundo turno, segundo as bocas de urna.

“O segundo aspecto que considero importante é o reposicionamento das forças de centro e centro-direita, que conseguiram manter alguns postos e avançar em outros. E a esquerda, com um resultado expressivo e surpreendente, especialmente na cidade de São Paulo, com Boulos. Ele chega com muita força, muito apelo da juventude, e tem chances reais de ser eleito”, completa o dirigente.

Sobre as pesquisas de boca de urna e os resultados parciais da apuração, Paulo Donizetti, editor-chefe da Rede Brasil Atual, diz que a presença de Crivella no segundo turno é um “ponto fora da curva”.

“Acho muito surpreendente que o candidato de Bolsonaro esteja indo ao segundo turno no Rio de Janeiro. Essa força ainda surpreende, mesmo diante de todos os problemas causados pelo governo Bolsonaro e pela forma como ele se relaciona com os adversários e aliados. O desempenho do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) [filho do presidente], vai ser um termômetro importante”, analisa.

A apuração dos votos está paralisada e deve terminar até o fim da noite deste domingo (15).

O cientista político Paulo Nicoli Ramirez alerta para a possibilidade de reações do bolsonarismo contra o sistema eleitoral, de modo a justificar o fracasso da ultradireita nas eleições.

“É importante que o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] explique o porquê dessa demora para que não haja margem para esse tipo de hipótese”, concluiu. “Se o Bolsonaro aderir a essa tese de fraude, que não faz sentido, pode inflar muitas manifestações da direita, o que é muito negativo para a democracia.”

O TSE informou que a paralisação da divulgação dos dados não tem nenhuma relação com o vazamento de dados pessoais de servidores e nenhuma relação com a tentativa de ataque cibernético registrada pela manhã.

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Da Rede Brasil Atual:

O sociólogo Marcos Coimbra, presidente do instituto Vox Populi, afirmou neste domingo (15) que as pesquisas de boca de urna divulgadas pelo Ibope ao fim das votações destas eleições 2020 corroboram as tendências apresentadas nos levantamentos anteriores. Na edição especial do programa Brasil TVT, de cobertura e análise das eleições municipais, ele disse que as mais recentes estimativas confirmam o fracasso das candidaturas apoiadas pelo presidente Jair Bolsonaro. “A não ser que alguma coisa muito surpreendente aconteça na apuração, todos os candidatos apoiados por Bolsonaro ou já perderam ou não têm chances de ganhar no segundo turno”, afirmou Coimbra.

“A grande previsão das pesquisas é essa. Bolsonaro vai sair claramente derrotado. Ele fica alardeando que não quis disputar, mas não quis porque sabia que ia perder. Essa conversa de que ele não se envolveu é bobagem. Nessa reta final, ele bem que tentou”, destacou o analista.

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