André Mendonça, que chamou Bolsonaro de “profeta”, é mestre na arte de puxar saco. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 29 de abril de 2020 às 17:43
André Mendonça põe a cabecinha no ombro de Bolsonaro em sua posse como ministro da Justiça

Existem puxa-sacos e existe André Mendonça.

O substituto de Sergio Moro no ministério da Justiça tomou posse nesta tarde em solenidade que contou com a presença de Jair Bolsonaro, e do presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Com seu jeito de balconista de videolocadora, o pastor evangélico Mendonça garantiu que sua pasta terá mais atuação em conjunto com a Polícia Federal e atuará ao máximo no combate à criminalidade no país.

Blablablá.

O novo ministro é advogado da União desde 2000. Sua nomeação foi confirmada na madrugada desta terça-feira pelo Diário Oficial da União.

É coordenador de um livro em homenagem aos dez anos de Toffoli no STF chamado “Democracia e Sistema de Justiça”. Foi lançado em 2019.

Bolsonarista de ocasião, em 2002 publicou um artigo elogiando Lula na Folha de Londrina. Era procurador da cidade.

A vitória lulista nas eleições “enchia os corações do povo de esperanças”.

“Fato inédito no Brasil. Um país, até então, governado por reis, por presidentes escolhidos em gabinetes ou ainda quando eleitos, lideranças formadas nas camadas sociais mais privilegiadas, sem experiência vivencial com a realidade dos milhões de brasileiros miseráveis e marginalizados (…), pelos próximos quatro anos será governado por um líder popular”, escreveu.

A lambida nas botas de Bolsonaro, portanto, é coerente com sua trajetória.

A alturas tantas de seu discurso, Mendonça, dirigindo-se ao chefe, falou que “Vossa Excelência tem sido há 30 anos um profeta no combate à criminalidade”.

Isso mesmo. Bolsonaro, de ligações milenares com milícias, o rei da rachadinha, o chegado do Queiroz, é uma vestal para Mendonça.

Prometeu, então, “lutar pelos ideais de uma vida que o senhor tem combatido”. Ainda bateu continência.

Quando Calígula adoeceu no início de seu reinado em Roma, um cidadão prometeu dar a própria vida em troca da recuperação do imperador.

O sujeito falou isso publicamente, esperando obter um prêmio generoso por sua declaração de lealdade.

Calígula se recuperou, finalmente. O homem esperava colher os favores, mas se deu mal: sua execução foi imediatamente ordenada.

Morto por bajulação. Cada um com o Calígula que merece.