André Valadão destilou todo o seu preconceito com a população gay. Por Hermes Fernandes

Atualizado em 8 de setembro de 2020 às 14:58
André Valadão

POR HERMES FERNANDES

A cada dia me surpreendo mais com a obtusidade do pensamento de algumas personalidades do mundo gospel. Desta vez, ninguém menos que André Valadão usa suas redes para destilar todo o seu preconceito contra a população LGBTQ+.

Respondendo a uma série de perguntas recebidas de seus seguidores, André se deparou com a seguinte questão: “Dois rapazes que são membros da igreja estão namorando, expulsa eles ou deixa na igreja?”.

Segundo ele, “eles podem ir para um clube gay ou coisa assim, mas na igreja não dá. Esta prática não condiz com a vida da igreja. Tem muitos lugares que gays podem viver sem qualquer forma de constrangimento, mas na igreja é um lugar para quem quer viver princípios bíblicos.”

Sua resposta e sugestão deixaram subentendido que gays não são bem-vindos nos templos evangélicos. Ele arremata: “Não é sobre a igreja expulsar, é sobre entender o lugar de cada um.”

Ouvir isso de um pastor das antigas, filho do seu próprio tempo, seria até compreensível, apesar de não justificável. Mas vindo de um pastor “descolado”?

Tenho a nítida impressão de que tanto André, quanto outros da família Valadão, ao se posicionarem de maneira tão anacrônica, nada mais fazem do que ratificar uma teologia enlatada “Made in USA” com prazo de validade vencido.

André é formado pelo Rhema Bible Trainning Center (Seminário oficial do Kenneth Hagin Ministries, papa da teologia da prosperidade e da confissão positiva) e pelo seminário Christ For the Nations em Dallas no Texas (um dos maiores propagadores de bizarrices neopentecostais).

O problema de parte do segmento evangélico não é com a homossexualidade, mas com a verdade. É certo que haja muitos homossexuais nessas igrejas, mas que preferem viver incólumes, seja sob o manto de um suposto celibato voluntário, ou em um relacionamento heterossexual de fachada.

Tais indivíduos se anulam por se deixarem convencer de que são uma abominação aos olhos de Deus. Infelizmente, alguns chegam às raias do suicídio. O que Valadão desconhece ou finge desconhecer é que “onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”, conforme o apóstolo Paulo.

Não se trata de liberdade cênica, litúrgica, mas existencial. Não é liberdade para pular , dançar, levantar as mãos, dar gritinhos durantes cultos que mais se assemelham a shows em casas noturnas. Mas é liberdade se ser o que se é. E o que banca tal liberdade é a graça.

Paulo declara: “Pela graça de Deus, sou o que sou.” Jesus jamais rejeitou a companhia de ninguém, nem mesmo dos que viviam fora dos padrões morais de sua época. Os únicos q Ele fez questão por para fora do templo foram os vendilhões, q se enriqueciam às custas da fé do seu povo.

“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei”, foi o convite feito por Jesus a todos, independentemente de orientação sexual, etnia, condição social ou econômica. Onde cabe Deus, cabe todo mundo.

A exclusão de um, seja ele quem for, é a exclusão do próprio Deus. Mas, sinceramente, nem é preciso excluir explicitamente. Seu discurso por si só já é excludente. Ninguém em sã consciência suportaria por muito tempo ouvir sentenças de condenação.

Só amor salvaria a igreja evangélica de si mesma.