O líder do partido Chega confirmou nesta quinta-feira (23) que está organizando um grande evento para juntar representantes da extrema-direita em Portugal com as presenças dos ex-presidentes Jair Bolsonaro (Brasil), e Donald Trump (EUA).
Durante uma coletiva de imprensa o deputado atestou que a conferência decorrerá em maio, mas disse também que só poderá confirmar as datas dentro de uma ou duas semanas.
Ventura está articulando com demais líderes europeus, incluindo Santiago Abascal (presidente do VOX da Espanha) e Giorgia Meloni (primeira-ministra italiana). Indagado a respeito de outros nomes, ele preferiu não revelar mais detalhes no momento. “Estarei nos dias 10 e 11 de maio em um evento com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, portanto será provavelmente antes ou depois desses dois dias”, explicou. O presidente do Chega deseja que a cimeira seja semelhante à Conferência da Ação Política dos Conservadores (CPAC), realizada anualmente nos EUA. O objetivo é ter um evento da mesma importância em solo europeu e que Lisboa seja a cidade anfitriã. Para André, a participação de Jair Bolsonaro teria um significado muito importante ao movimento conservador internacional, já que se trata de uma agenda com definição de alianças e articulações na luta contra o ‘socialismo’ na Europa, nos EUA e na América do Sul. “Dada a situação do Brasil em particular, onde Lula da Silva venceu essas últimas eleições, com tudo que isso representa, parece-nos fazer sentido que o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro pudesse estar presente”, pontuou.
Questionado sobre os posicionamentos xenófobos e reacionários de seu partido em um momento onde o número de residentes brasileiros ultrapassa os 300 mil em Portugal, André Ventura reforçou que o relacionamento do Chega com a maior comunidade imigrante do país é “perfeita” e que duvida que haja um outro partido com tantos dirigentes vindos do Brasil como o seu.”Muitos dos brasileiros que estão cá, sobretudo os que estão a chegar agora, vêm também a fugir do ‘socialismo’ e nós queremos acolher essas pessoas para partilharmos experiências com elas a respeito do que também tem sido o ‘socialismo’ em Portugal”, explanou.
Apesar de ser governado pelo PS, a atual administração portuguesa está longe de ser considerada socialista em termos práticos. Além disso, é importante ressaltar que na eleição presidencial de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva obteve maioria em Portugal, com 65% dos votos válidos no segundo turno. Nas cidades do Porto e Lisboa, o petista venceu com o dobro da preferência dos eleitores.
O representante lusitano da ultra-direita afirmou já ter comunicado ao presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa (PSD), e ao ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro (PS), a necessidade de garantias a respeito da logística, da organização e da segurança do evento. Ventura revelou ainda que Marcelo Rebelo está disposto a receber Jair Bolsonaro caso o ex-presidente brasileiro faça o pedido.
Sobre Bolsonaro nunca ter visitado Portugal enquanto presidente do Brasil, André Ventura ponderou dizendo que isso pode não ter ocorrido devido a falta de convite por parte da gestão do atual primeiro-ministro, António Costa (PS). “O governo português foi dos ‘socialistas’ desde que Jair Bolsonaro tomou posse até o momento em que saiu. Portanto, penso que nunca houve nenhuma iniciativa diplomática e política para uma visita oficial”.
Ventura não descarta a possibilidade de receber financiamentos privados para a realização da cimeira, já que se trata de um acontecimento de altos custos, principalmente se for confirmada, pelo partido Republicano estadunidense, a presença de Donald Trump. “Grande parte será financiada pelo Chega. Provavelmente vamos ter que pedir apoio, mas quero que tudo seja feito com total transparência e solidez para que, aqueles que contribuírem, saibam o que estão apoiando”.
Ultra-direita portuguesa organizada contra Lula
Em fevereiro, depois do convite do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal para que Lula participasse no Parlamento em sessão solene do 25 de Abril (Revolução dos Cravos), líderes de vários partidos da direita e da extrema-direita do país se manifestaram contra a decisão.
Além da vinda para as celebrações que marcam o Dia da Liberdade para o povo português, o governo brasileiro também confirmou a presença de Lula na cimeira luso-brasileira entre os dias 22 e 25 de Abril. Luiz Inácio também deve assinar o diploma do prêmio Camões de Literatura ao músico e escritor Chico Buarque, somando-se a um possível encontro com militantes do Partido dos Trabalhadores que residem no país. André Ventura já havia convocado atos contra a presença de Lula, afirmando que fará o maior ato contra um chefe de Estado já visto em Portugal caso o presidente brasileiro compareça à Assembleia da República no dia da Revolução dos Cravos ou em qualquer data posterior. “Lutaremos com todos os meios que estiverem ao nosso alcance para impedirmos o discurso no Parlamento em 25 de abril deste ano. O contato que fizemos com associações de imigrantes brasileiros, empresários, algumas igrejas evangélicas e parceiros no Brasil, mostram que é possível mobilizar a comunidade para a maior manifestação de sempre!”
Para Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, esse ataque à vinda de Lula não representa a vontade de boa parte dos brasileiros que vivem no país. Segundo ela, a instituição a qual preside reconhece que partidos de extrema-direita elegem como inimigos principalmente as pessoas imigrantes. “A tentativa de impedir a visita do Lula é um ato deplorável e não representa a comunidade brasileira”, reforçou em comunicado oficial no mês passado.
Brasileiros vivem crise em Portugal
A vinda do presidente do Brasil em terras lusitanas se faz mais do que necessária em um momento onde milhares de imigrantes enfrentam dificuldades em se regularizarem no país. Devido à burocracia e a escassa estrutura disponibilizada pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), o órgão responsável por conceder as autorizações de trabalho e residência em Portugal está “condenando” muitos à fome e à miséria.
O aumento no custo de vida e a falta de políticas públicas eficientes para estancar a crise de habitação também têm contribuído com a situação de vulnerabilidade de muitos brasileiros. O número de pessoas que solicitaram apoio para regressar ao Brasil quadruplicou entre os anos de 2021 e 2022, representando 92% do total das solicitações (como indicam os dados do Programa de Apoio ao Retorno Voluntário e à Reintegração da Organização Internacional para as Migrações, OIM).
Pedro Prola, coordenador do Núcleo do PT em Lisboa, já havia dito que a visita e a participação de Lula serão fundamentais para aprofundar os laços históricos entre Brasil e Portugal depois de quatro anos de pouco diálogo. “Nesse momento de esperança com a retomada da democracia no Brasil, a comunidade brasileira em Portugal vai receber Lula com alegria e espírito democrático”, finaliza.