Antes de Anitta com seus dreadlocks, Chico Buarque já tinha constatado que ninguém é branco no Brasil. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 25 de fevereiro de 2017 às 18:57
Anitta
Anitta

 

A cantora Anitta deu uma resposta contundente às patrulhas que a acusam de apropriação cultural por ter aparecido com dreadlocks.

Na Bahia, onde está se apresentando no Carnaval, falou a um repórter da Folha: “No Brasil, ninguém é branco. E cada um deve se vestir da forma que se sente bem”.

Anitta não é nenhum exemplo de ativista. Longe disso, aliás. Afinou o nariz assim que começou a ganhar dinheiro a sério — mas está assumindo, com tranquilidade, que não é branca e, portanto, suas tranças no cabelo são “legítimas”, se é esse o problema.

Não há arianos no país, mas nós temos legiões invencíveis de racistas dentro do armário que surtam, por exemplo, quando encontram o porteiro no shopping.

Anitta não sabe, mas está repetindo Chico Buarque.

Num vídeo de 2008, Chico dá sua visão sobre racismo e sobre o Brasil a partir de um caso de discriminação que sua família sofreu depois que uma de suas filhas se casou com Carlinhos Brown e com ele teve um filho.

“Pensam que eu sou branco, por exemplo. Só no Brasil que eu sou branco, ou que minha filha é branca”, diz ele. “Um dia eu falei brincando que ninguém no Brasil é branco, a não ser a Xuxa e, se ela não casar com o Tafarel, vão acabar os últimos brancos brasileiros”.