
Míriam Leitão propõe uma terapia coletiva em sua coluna no Globo deste domingo.
“Não cabe mais perguntar que governo é este. A resposta está dada. O Brasil chega ao seu pior número diário de vidas perdidas, em um ano de pandemia, com o colapso se espalhando pelos estados, e o presidente Bolsonaro dizendo que a máscara é que é o risco. O que cabe agora é tentar saber que país é este. Quem somos nós? De que matéria somos feitos? O futuro perguntará aos contemporâneos dessa tragédia o que fizemos. Enquanto os brasileiros morriam, o inimigo avançava impiedosamente e o governo era sócio da morte”, escreve.
Ela repete o bordão “quem somos nós” enquanto desfia os dados sobre a tragédia nacional.
“No dia das 1.582 vidas perdidas, ou da queda de cinco Boeings, como comparou o cientista Miguel Nicolelis, qual era a cena no Brasil? A Câmara dedicava horas seguidas à emenda que protege os parlamentares dos crimes que vierem a cometer. O Senado debatia a retirada do financiamento da Saúde e da Educação. Por serem pontos tão absurdos, as duas Casas ensaiaram recuos”, acusa.
“E o presidente da República? Ele, como fez todos os dias desse último ano, na sua macabra mesmice, atirou contra a saúde dos brasileiros. Desta vez, dizendo que uma universidade alemã tem um estudo que prova um tal risco do uso de máscaras em crianças. Sempre assim, negando as provas da ciência, falando de algum suposto remédio. Sempre mentindo, o presidente do Brasil”.
Tudo muito bom, tudo muito bem, mas falta a própria Míriam perguntar ao oráculo: “quem sou eu?”
Mais: “o que eu fiz para chegarmos a esse ponto?”
Míriam foi uma das artífices do golpe de 2016 com uma obsessão maníaca pelos governos petistas.
Tem uma fórmula para explicar o fracasso econômico do Brasil, da Argentina e do Congo Belga: a herança maldita.
Temer, nesse sentido, pegou um barco destruído pelo “lulodilmismo”.
Embarcou, juntamente com seu filho Vladimir Netto, repórter do Jornal Nacional, na aventura da Lava Jato, chegando a participar de lançamento da biografia do ex-juiz em Curitiba.
Fez assessoria de imprensa para Sergio Moro, Deltan Dallagnol e cia. Os abusos fascistas da operação foram solenemente ingnorados por ela.
Ajudou a preparar o terreno para a ascensão de um aventureiro de “fora da política”, contra a “corrupção”, que iria limpar tudo isso que está aí.
Tocou o terror mentindo que Dilma instararia o “bolivarianismo” no país.
Nunca fez um mea culpa sobre o lavajatismo ou seu papel no impeachment.
O máximo foi uma espécie de aceno a Dilma Rousseff, que a ex-presidente chamou de “sincericídio tardio” e Míriam logo rebateu.
Antes de cobrar quem somos, Míriam precisa dizer quem ela é.