Antes de qualquer coisa, uma confissão: eu me masturbo. Por Nathalí Macedo

Atualizado em 1 de dezembro de 2015 às 21:57
A autora
A autora

Antes de qualquer coisa, uma confissão: eu me masturbo. E não é pouco. A sua namorada se masturba, a sua mãe se masturba, a sua tia, a moça de óculos com cara de recatada que senta ao seu lado na sala de aula, aquela senhora de meia idade que cruza com você na fila do cafezinho no trabalho. Todas nós buscamos o prazer saudável e solitário que só a masturbação é capaz de nos presentear: no redtube, na literatura erótica, nos grupos eróticos no facebook ou na nossa fertilíssima imaginação – que nem sempre contempla aos homens que amamos.

Assim como vocês, nós podemos sentir prazer imaginando uma transa proibida com o vizinho casado ou com aquele ator que você insiste em dizer que “não é isso tudo”.

Dito isto, me ocorre: porque exatamente isso é uma confissão? Porque não podemos, assim como vocês, dizer numa roda de conversa que nós sentimos prazer sozinhas e que adoramos o nosso vibrador novo?

O prazer feminino ainda é um tabu. E o mais ininteligível nisto é que nós, mulheres, que somos tão absurdamente sexualizados pela mídia, pela indústria pornográfica e pelo imaginário masculino de um modo geral, não podemos assumir essa sexualização quando se trata do prazer propriamente dito.

A sexualização feminina só é socialmente aceita quando convém; sexualizar o corpo da mulher em prol do prazer masculino nunca foi uma aberração.
Quem não se lembra do caso de Luana Piovanni – e do estardalhaço desnecessário pela aparição acidental de um vibrador ao fundo de uma selfie?

Quando ela – Luana – ou qualquer outra mulher aparece seminua numa revista masculina, não há indignação – afinal, peitos e curvas a serviço da masturbação masculina – essa sim aceita e, inclusive, incentivada – não são novidade. Mas admitir que esta mesma mulher pode sentir prazer sem o auxílio de um homem é absurdo, imoral, quase inaceitável.

É fácil admitir que a mulher pode ser sexualizada pelo homem – e aqui não estamos tratando de um sujeito específico, mas de um sistema, da lógica patriarcalista – mas é inaceitável que nós possamos usufruir, sozinhas, de nossa própria sexualidade.

O tabu da masturbação feminina vai além da hipocrisia: passa pela ideia de que nós não podemos sentir prazer sozinhas sem que isso fira de morte o ego masculino – já que o homem é dito, em todos os lugares do mundo e desde o início dos tempos, como o grande e indispensável provedor, aquele que satisfaz – em todos os sentidos – a sua fêmea.

Desconfio que é este pensamento que nos aprisiona nesse casulo de constrangimento quando se trata de nossa própria sexualidade; que faz com que ainda haja multilação genital na África e com que mulheres precisem usar pseudônimos para escreverem contos eróticos para que não sejam importunadas por desconhecidos.

O patriarcado prefere acreditar que nós precisamos dos homens para sentirmos prazer. Sinto informar: vocês estão redondamente enganados.