Antes de sair, a presidente da Sabesp deve dizer quem deu a ‘ordem superior’ para não falar da água

Atualizado em 18 de dezembro de 2014 às 19:24
Dilma Pena, presidente da Sabesp, e Alckmin
Dilma Pena, presidente da Sabesp, e Alckmin

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No governo Alckmin, é certa a substituição de Dilma Pena na presidência da Sabesp. Ela já havia colocado seu cargo à disposição depois do diálogo em que o vereador Andrea Matarazzo chamou de “teatrinho” a CPI da Câmara Municipal de São Paulo.

Dilma também foi flagrada em áudio captado durante reunião de diretoria da Sabesp. Para ela, o racionamento de água não foi deflagrado em razão de “orientação superior”.

Pairam dúvidas sobre a orientação superior. Uma das versões é a de que Alckmin evitou a contaminação do tema na campanha de 2014. Não é a contaminação dos poluentes da segunda cota do volume morto.

Outra versão, mais factual, é que a água enquanto produto de mercado, não poderia perder rentabilidade. Desde 2006, por exemplo, se retira mais água do que se produz no sistema Cantareira.

Mas este é o lado visível da gestão de Dilma Pena.

Na direção da Sabesp desde 2011, com formação na Universidade de Brasília e passagem pela FGV, ela nunca escondeu durante sua atividade acadêmica o seu desprezo pelo papel do Estado na gestão pública.

Sua orientação sempre foi pelo setor privado na gestão dos interesses públicos.

Durante as comemorações de 10 anos da Sabesp no mercado de ações da Bolsa de Nova York, Dilma Pena desfilou com um grupo do governo.

Foi na sua administração que o conceito de água enquanto mercadoria ganhou contornos mais nítidos.

É comum ouvir dos diretores da Sabesp o mantra de sua gestão: “Água é barato, compare com cerveja…”.

Ladislau Dowbor, professor titular de economia e administração da PUC-SP, consultor de várias agências das Nações Unidas, costuma afirmar que: “A única maneira de um produto ter valor de venda é restringir o acesso. Quanto mais escasso, maior valor comercial”.

Não é a toa que Alckmin passou a constranger o consumidor e adotou a sobretaxa de 50% na conta do consumidor.

Durante todo o ano de 2014, o Governador afirmou que não haveria racionamento.

Água, após gestão de Dilma Pena frente à Sabesp, ganhou forma de produto descartável, fruto da providência divina e da lógica da administração neoliberal.

Todas as medidas adotadas pela gerente de Geraldo Alckmin como solução para a crise hídrica passam por grandes obras em parcerias público privadas.

Não houve nenhuma proposta ou ação de recuperação dos sistemas de abastecimento, premissas da Outorga de 2004 do Sistema Cantareira.

Soou como novidade às vítimas da escassez hídrica o surgimento do nome da Odebrecht Ambiental na PPP do Sistema São Lourenço. Outras surgirão, como raposas para cuidar do galinheiro.

Com Dilma Pena, a mão invisível sentiu-se à vontade.

A troca da presidência da Sabesp é resultado da mesma lógica do modelo que adotado durante sua gestão: a obsolescência planejada.

Ela sai às vésperas do recrudescimento de uma crise hídrica inédita na história de São Paulo. Para o mercado, Dilma Pena quebrou.