Antes do Brasil, Trump tentou destruir o Pix da Indonésia; entenda

Atualizado em 16 de julho de 2025 às 17:15
O Pix

O Pix, lançado oficialmente em novembro de 2020, entrou na lista de preocupações comerciais dos Estados Unidos. Segundo relatório do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o modelo brasileiro — baseado em tecnologia pública, sem tarifas e com ampla adesão popular — pode prejudicar empresas americanas de meios de pagamento.

Em 2023, o Pix movimentou R$ 26,4 trilhões, desbancando modelos tradicionais como TED e DOC e afetando a expansão de plataformas como Google Pay e Apple Pay.

De acordo com o USTR, o Brasil estaria favorecendo serviços estatais em detrimento de concorrentes estrangeiros. O relatório também mistura o tema com sanções aplicadas a redes sociais dos EUA que não cumpriram decisões judiciais brasileiras, argumentando que essas práticas aumentariam custos e riscos para empresas americanas atuantes em comércio digital e pagamentos eletrônicos.

Embora não cite tarifas diretamente, o documento integra a ofensiva econômica liderada por Donald Trump contra países considerados hostis à sua política comercial. Um sistema semelhante, adotado na Indonésia — o QRIS (Quick Response Code Indonesian Standard) — também foi criticado por Washington e acabou resultando em uma tarifa de 32% sobre produtos indonésios, posteriormente reduzida para 19% após acordo.

Assim como no Brasil, o QRIS é gratuito, acessível e atende principalmente pequenos comerciantes e a população de baixa renda — segmentos pouco atendidos por gigantes como Visa e Mastercard.

Para especialistas, a insatisfação dos EUA tem menos a ver com concorrência leal e mais com a incapacidade de grandes corporações americanas de dominarem mercados altamente digitalizados, porém orientados por modelos públicos. O embate sobre o Pix, portanto, vai além de tecnologia: revela um conflito entre soberania digital e interesses comerciais globais.

Ao incluir o Pix entre os alvos de sua ofensiva, o governo Trump resgata também um desconforto antigo da Meta, atualmente uma de suas aliadas estratégicas. O episódio central desse incômodo foi a decisão do Banco Central do Brasil, em 2020, de suspender o lançamento do WhatsApp Pay no país — serviço de pagamento vinculado diretamente ao aplicativo de mensagens da empresa de Mark Zuckerberg.

A medida foi tomada poucos dias após o anúncio oficial da nova funcionalidade. A justificativa do BC foi a necessidade de avaliar riscos à concorrência e à estabilidade do sistema financeiro nacional. Apesar de defendida como uma ação de precaução, a decisão causou forte reação nos bastidores da Meta e de outras empresas americanas, que interpretaram a suspensão como uma manobra para proteger o desenvolvimento do Pix, ainda em fase inicial na época.

O bloqueio ao WhatsApp Pay se estendeu por vários meses. Quando o serviço foi finalmente autorizado, em 2021, o cenário já havia mudado drasticamente: o Pix havia se consolidado como o principal meio de pagamento digital do país, com ampla adesão popular e baixa margem para novos entrantes.

A tensão gerada naquele episódio permanece como pano de fundo nas atuais críticas dos EUA ao sistema brasileiro.