Antro de nazistas: Brasil entra em monitoramento internacional da ONU

Atualizado em 22 de junho de 2024 às 8:32
Armas, uniformes e bandeiras nazistas apreendidos com suspeitos de integrarem um grupo neonazista em Santa Catarina, em 2022. Foto: Polícia Civil de Santa Catarina

Um relatório da ONU sobre a expansão de movimentos neonazistas incluiu o Brasil em seu informe anual, destacando o fortalecimento de grupos e incidentes relacionados. O documento será debatido durante a reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que ocorre até meados de julho em Genebra, conforme informações do colunista Jamil Chade, do UOL.

O informe, intitulado “Combatendo a Glorificação do Nazismo e Neonazismo”, foi elaborado pela relatora da ONU sobre formas contemporâneas de racismo e xenofobia, Ashwini K.P., com o objetivo de identificar a extensão desse fenômeno e apresentar propostas para que os governos possam enfrentá-lo de maneira eficaz.

Os Estados forneceram informações à relatora, que consolidou os dados no documento oficial. Além do Brasil, foram mencionados casos em mais de vinte países.

Ashwini K.P. relatou que o Conselho Nacional de Direitos Humanos do Brasil informou sobre um aumento preocupante no discurso de ódio e nas manifestações neonazistas nos últimos anos. Em resposta a essa ameaça crescente, o conselho estabeleceu um Relator Especial para o Combate ao Crescimento de Células Neonazistas no Brasil, encarregado de coletar dados sobre o aumento desses movimentos.

O documento destaca que, em 2021, o Centro Nacional de Crimes Cibernéticos no Brasil recebeu e processou 14.476 denúncias anônimas relacionadas ao neonazismo, enfatizando a seriedade da situação e a necessidade urgente de intervenção.

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Itens nazistas apreendidos pela polícia em Santa Catarina. Foto: Polícia Civil de Santa Catarina

“Além disso, o Brasil detalhou que, de acordo com uma pesquisa publicada no site do Fiquem Sabendo, no período entre janeiro de 2019 e novembro de 2020, 159 investigações foram abertas pela Polícia Federal relacionadas ao neonazismo. Isso foi comparado com 143 investigações que haviam sido abertas entre 2003 e 2018”, explicou.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos também forneceu detalhes sobre casos criminais no Brasil que evidenciam o aumento do neonazismo.

“Os casos incluíam um episódio de violência escolar em que o agressor usava um uniforme militar e uma suástica em suas roupas, pichações nazistas em ambientes educacionais, ameaças em ambientes educacionais com referências nazistas, uma investigação de uma fábrica que produzia produtos que glorificavam o nazismo e a afiliação de indivíduos envolvidos em crimes violentos com o neonazismo e ideologias associadas”, diz o relatório.

Vale destacar ainda que, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a deputada de extrema-direita alemã e neta de um ministro de Adolf Hitler, Beatrix von Storch, visitou o Palácio do Planalto e foi recebida pelo chefe de Estado. Além disso, surgiram denúncias sobre o envolvimento de membros do governo com movimentos supremacistas e neofascistas.

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Bolsonaro ao lado da deputada alemã Beatrix von Storch. Foto: reprodução

Ataques em escolas

Dados também foram submetidos à relatora da ONU pela Campanha Brasileira pelo Direito à Educação, destacando os “níveis crescentes de ultraconservadorismo no sistema educacional do Brasil”.

“Ela forneceu informações sobre recentes ataques violentos em escolas, que foram descritos como relacionados a tendências sociais ligados à intolerância e à glorificação do nazismo”, afirmou o documento.

“Os autores desses ataques incorporam perspectivas e valores de opressão, abrangendo manifestações de racismo, misoginia e tendências autoritárias frequentemente associadas a ideologias fascistas e nazistas”.

Segundo o documento, os autores dos ataques foram “frequentemente recrutados e radicalizados on-line, consumindo e promovendo com frequência conteúdo e símbolos neonazistas”.

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