Ao atacar a China, Eduardo Bolsonaro imitou Trump, e é preciso perguntar: O que ele ganha com isso? Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de março de 2020 às 7:11
Eduardo Bolsonaro é recebido pelo presidente dos EUA, Donald Trump
Imagem: Joyce N. Boghosian/Casa Branca

Tudo o que o Brasil não precisa agora é comprar uma briga com a China, que é o maior parceiro comercial do Brasil. E por que Eduardo Bolsonaro atacou a China com um argumento de teoria da conspiração, sem base alguma?

A resposta é o alinhamento automático com os Estados Unidos, que a Embaixada da China no Brasil identificou na sua postagem mais recente.

“As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”, afirmou a Embaixada.

A pergunta que se deve fazer é por que o filho do presidente decidiu colocar em risco a relação do país com a China. O Brasil não ganha, mas e Eduardo Bolsonaro?

Quando a Embaixada diz que Eduardo, ao responsabilizar a China pela pandemia de coronavírus, imina “seus queridos amigos”. Está se referindo a Donald Trump, que chama o Covid-19 de vírus chinês.

Estados Unidos e China têm uma relação tensa por conta da chamada guerra comercial. Mas os dois países sempre acabaram se entendendo em razão de interesses mútuos.

Mas e o Brasil?

Caso o governo não aja para corrigir o estrago feito por Eduardo Bolsonaro, o país terá comprado uma disputa que não é nossa, não nos interessa.

Eduardo Bolsonaro está agindo como integrante de gangue que resolve atacar o inimigo do chefe por trás.

Para os brasileiros, que sofrerão com o contragolpe que a China indica que dará, fica a pergunta:

“A troco de que Eduardo Bolsonaro imita “seus queridos amigos”?

Se não é para atender a interesses brasileiros, atenderia a interesses de quem ou de que país?

A Câmara dos Deputados deve cobrar uma retratação de seu integrante. Mas não tem poder para exigir dele essa atitude. O máximo que pode fazer é dizer que ele não fala em nome do Poder Legislativo.

Pode também, paralelamente, colocar para andar uma das reclamações feitas contra ele na Comissão de Ética por quebra de decoro, em razão de outras transgressões, como defender a volta do AI-5 – o texto legal que oficializou a ditadura militar no país, em 1968.

A cassação de seu mandato impediria uma crise diplomática.

O ideal seria que o governo cobrasse retratação, mas o governo é, de certa forma, Eduardo Bolsonaro.

É preciso verificar se o filho do presidente age por idiotice — possibilidade remota — ou é recompensado por atacar pelas costas o adversário do que parece ser o seu chefe — Donald Trump e os interesses de seu governo.