Ao atacar Caetano e Daniela Mercury, Bolsonaro ajudou a colar na própria testa a tatuagem VTNC

Atualizado em 5 de março de 2019 às 17:01
Bolsonaro, Daniela Mercury e Caetano Veloso

Jair Bolsonaro acusou o golpe.  O duro golpe que sofreu neste Carnaval. As manifestações colaram na testa dele a sigla VTNC.

O movimento de rejeição a ele começou na sexta-feira, com manifestações aqui e ali.

A Polícia de Minas Gerais, sob a inspiração de Romeu Zema, tentou conter os foliões.

Ameaçou abandonar a segurança do bloco Tchanzinho Zona Norte se os músicos continuassem puxando um coro contra Bolsonaro.

A ameaça, se concretizada, representaria crime de prevaricação, e o Ministério Público (tanto o federal quanto o estadual) lembrou que cobraria o comando da PM na Justiça.

Era, ademais, uma violação explícita ao direito constitucional da liberdade de expressão.

Houve recuo da PM, e as manifestações se multiplicaram, não apenas em Belo Horizonte, mas em todo o Brasil.

Foi o Carnaval “Bolsonaro VTNC”.

Bolsonaro usou suas armas.

O filho do meio, Carlos, postou uma mensagem ameaçadora ao deputado Rogério Correia, do PT, que havia aderido ao protesto VTNC.

“Teu ‘grito de coragem’ será respondido de outro jeito! ! Prepara ai, amigão! Tudo encaminhado!”, escreveu o filho do presidente, através do Twitter.

O que Carlos Bolsonaro quis dizer?

Vai mobilizar milicianos? Acionar o escritório do crime? O que é responder de outro jeito?

Como não explicou, qualquer interpretação é possível.

Depois, Bolsonaro atacou Caetano Veloso e Daniela Mercury, ídolos da música popular e com forte identificação com o Carnaval.

Usou para isso um cantor anônimo que nem sabia a letra de composição que tem  forte crítica aos dois artistas.

No vídeo que Bolsonaro divulgou, o cantor lia a letra em um celular. Espontaneidade zero.

Bolsonaro tirou do bolso o surrado discurso sobre a Lei Rouanet, e disse que o tipo de “artista” (a aspa é dele) como Caetano Veloso e Daniela Mercury não mais se beneficiaria da legislação de incentivo à cultura.

A resposta de Daniela Mercury foi precisa.

Ela contou que, em vinte anos, obteve, em média, cerca de 50 mil reais por ano para fazer seus shows que trazem retorno milionário para o turismo da Bahia e do Brasil.

“Sr. Presidente, sinto muito que não tenha compreendido a canção Proibido o Carnaval, que defende a Liberdade de expressão e é claramente contra a censura. Mas acho que isso nem vem ao caso aqui porque percebo que há uma distorção muito grave sobre a lei Rouanet. Parece que ela ainda não foi compreendida”, disse.

Por fim, sugeriu um encontro.

“Reitero aqui a minha disposição de conversar com o senhor e com sua equipe sobre a lei Rouanet. Se assim desejar, irei com minha esposa, que é também minha empresária, até Brasília para conversar com o senhor sobre o assunto”, escreveu, em carta aberta.

Naturalmente, Bolsonaro não está interessado em esclarecer nada nem em aprender nada.

Ele se descontrolou com as críticas que se avolumam neste Carnaval e, além da marchinha chapa branca, usou outra arma, também sem credibilidade.

Trata-se de uma reportagem da TV Record sobre os bonecos de Olinda. Entre eles, havia dois representando Bolsonaro e a esposa, Michele.

O DCM mostrou que foram vaiados e xingados pelos foliões, mas a Record não conta esse detalhe negativo para o casal.

Bolsonaro, escorado na reportagem da TV, agradeceu pela “homenagem de Pernambuco”.

O esgoto de Bolsonaro na rede social tem se mobilizado, mentindo que a marchinha contra Caetano e Daniela Mercury “viralizou” e os bonecões de Olinda foram um sucesso.

Não colam. São balas de festim, um traquezinho em meio a rojões.

Bolsonaro agiu com o fígado.

E não ponderou que deveria evitar o confronto na arena do adversário.

Ele nada de braçada entre os brasileiros que vão à porta de quartel bajular fardados e pedir intervenção militar.

Mas, no Carnaval, é um peixe fora d’água.

Como se atreveu a desafiar foliões, vai pagar o preço.

A marca na testa dele, VTNC, não vai desaparecer.