Ao chamar moradores de rua de “zumbis”, Russomanno está dizendo o que faria com eles. Por Mauro Donato

Atualizado em 21 de setembro de 2016 às 9:33
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Absolvido do crime de peculato pelo STF (por placar apertado de 3 a 2), o candidato Celso Russomanno (PRB) lidera as pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo e agora, cheio de autoconfiança, prossegue em seus desatinos quando o assunto é a cracolândia e os dependentes químicos.

Nesta terça-feira, em um debate entre candidatos promovido pela Arquidiocese de São Paulo, Russomanno chamou essas pessoas de zumbis.

Na verdade, a pergunta era sobre as propostas dos candidatos para as pessoas em situação de rua. Os seja, ele já começou embaralhando tudo, classificando todos os moradores de rua como usuários de drogas.

“Eu converso com os moradores de rua. Eu ando pelas ruas. Eu sei o que acontece”, afirmou. “Nós estamos criando o que nós vemos nos filmes de ficção: uma sociedade de zumbis.”

Celso Russomanno é autor da brilhante ideia de isolar a região, criar um ‘cordão sanitário’, com a Guarda Civil Municipal (GCM) a postos para revistar pessoas suspeitas que acessam o local. “Não adianta nada dar moradia e não proibir a droga. Aqueles que quiserem entrar será com a vistoria.”

O candidato absolvido aos 44 minutos do segundo tempo desconhece a complexididade do problema – que envolve inclusive o alcoolismo – e prefere o discurso fácil que  a seu eleitorado conservador, ‘pessoas de bem’, espectadores de programas sensacionalistas como o dele ou Datena. Russomanno herdou a intenção de votos daquelas senhoras que chegaram a sonhar com Datena candidato.

Para esse público, falar em drogas é evocar satanás, zumbis, demônios, os cavaleiros do apocalipse. A total desinformação popular da qual Russomanno tira proveito.

Não existe, em nenhum momento da história, nenhum povo que não tenha feito uso de alguma espécie de substância que lhe altere o estado de consciência. Isso é uma necessidade universal. As drogas sempre estiveram presentes nas sociedades.

Acontece que algumas são lícitas e outras não. É isso que precisa ser debatido. A forma de lidar com o ‘problema’ é que cria aproveitadores como Russomanno que vendem soluções baseadas em segregação, repressão, criminalização. Tudo aquilo que só piora o quadro. E nós que acreditávamos que Alckmin Dead era ruim…

Em vez de propor jaulas, já que Russomanno faz uma associação direta entre drogas e crime, o candidato deveria explicar qual a sua proposta para um melhor aproveitamento da ‘pena-terapia’, uma medida prevista em lei desde 2006 quando o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad) estabeleceu a Justiça Terapêutica, na qual pessoas que cometeram crimes de menor potencial ofensivo em decorrência do porte ou uso de drogas submetem-se a tratamentos em centros de atenção psicossocial e programas de auto-ajuda com comparecimento mensal no Fórum. Isso só existe praticamente em Santana e Ipiranga.

Ele vai ampliar e aperfeiçoar algo já previsto em lei e com finalidade nítida de recuperação e ressocialização ou prefere trancar as pessoas num calabouço e jogar a chave fora?

Com seu ‘discurso família’, Russomanno é mais um a perpetuar e agravar os problemas em vez de enfrentá-los. Depois não irá adiantar procurar o Procon.