Ao combater as lombadas eletrônicas, Bolsonaro mostra seu desprezo pela vida humana. Por Sacramento

Atualizado em 7 de abril de 2019 às 22:24

Das ideias e medidas anunciadas por Bolsonaro nesses quase 100 dias de governo, poucas demonstram tanto desprezo à vida humana quanto a intenção de suspender novos radares em rodovias federais.

Sem apresentar dados ou uma justificativa mais consistente além de uma suposta “indústria da multa”, Bolsonaro combate um dos únicos recursos disponíveis atualmente capazes de frear um pouco a matança nas estradas brasileiras.

De acordo com o estudo chamado “Impactos da Redução dos Limites de Velocidade em Áreas Urbanas”, produzido pelo World Resources Institute (WRI Brasil), a redução de 5% na velocidade média pode levar à queda de 30% no número de acidentes fatais.

Em 2016, último ano disponível no banco de dados do Ministério da Saúde, foram 37.345 mortes por acidentes de trânsito no Brasil. Junto a este número estão milhares de sobreviventes com sequelas, mutilados ou inválidos.

Tudo isso leva a reflexos na economia. No ano de 2016, a violência no trânsito deixou um prejuízo de R$ 146,8 bilhões ao país.

Diante desses números, qualquer pessoa minimamente sensata deixaria as lombadas eletrônicas onde estão. Como sensatez é um adjetivo que passa longe do governo Bolsonaro, os elevados índices de mortes nas estradas não são vistos como um problema sério.

A prova disso está no “pacote anticrime” proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que não cita medidas específicas contra os crimes de trânsito.

Por atitudes como esta, Bolsonaro dá a impressão de que toma as decisões baseado em discussões de grupos do Whatsapp.

Espaços onde indivíduos medianos, na maioria homens, reclamam das lombadas eletrônicas que os obrigam cumprir a lei e dirigir a 60 km/h.

Entre um e outro compartilhamento de pornografia, debatem a eficácia de dispositivos eletrônicos para alertar sobre a existência de radares e informam aos parceiros os locais das operações da “lei seca”.

Eventualmente um desses homens brancos e autodeclarados “cidadãos de bem” comete um deslize no trânsito e tira a vida de um inocente.

Quem sabe seja por isso, movido pelo instinto de sobrevivência, que Bolsonaro não dê a mínima para a violência no trânsito.