Ao contrário do que diz Jair, 50% dos casos graves de coronavírus no Brasil estão abaixo dos 60 anos

Atualizado em 28 de março de 2020 às 13:03
Jovens também estão no grupo de risco. Foto: reprodução

De forma irresponsável e criminosa, Bolsonaro vem insistindo para desmanchar o esquema de isolamento social adotado por municípios e governos estaduais como forma de conter a pandemia do coronavírus.

Jair sabota a população. Mente ao justificar que apenas os idosos são suscetíveis ao contágio, como se isso atenuasse alguma coisa.

Uma falta de sensibilidade social que não encontra respaldo nem nas estatísticas oficiais.

Segundo levantamento por faixas etárias da população, disponibilizado pelo Ministério da Saúde, mortes de menores de 60 anos representam 10% do total no Brasil.

Entretanto, quando se trata de casos graves, jovens e adultos representam quase a metade, segundo o UOL.

De acordo com essa análise oficial por faixas etárias, no momento em que o país registrava 59 óbitos, seis vítimas tinham menos de 60 anos — cerca de 10% do total. Dos 391 casos graves, 188 (ou 48%) eram de jovens e adultos. Ontem, o número de óbitos subiu para 92 (2,7% do total de 3.417 casos), mas a pasta do governo não divulgou a divisão por faixas etárias.

“Não é nada raro. Essa coisa de que jovem não vai ter problema [com o vírus] é uma ilusão, não representa a realidade dos nossos hospitais”, afirma a infectologista Naihma Fontana, que cuida de uma UTI (unidade de tratamento intensivo) em Sorocaba, no interior paulista.

Para ela, ao estimular isolamento só de idosos, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) despreza a taxa de mortes e ignora as sequelas deixadas em quem sobrevive a casos graves de coronavírus.

“Nós temos pacientes em estado grave de todas as idades. Tem de 46, 48, 33 anos. Todos entubados, com ventilação mecânica. O vírus não escolhe faixa etária. Claro que morrem mais idosos por causa das complicações, mas os jovens morrem, sim. Ficam em estado grave, sim”, afirma Fontana.

A infectologista entende que o Estado e parte da população têm de parar de tratar o assunto como se fossem números. Diz ainda que não faz sentido o governo desprezar as taxas de mortalidade das vítimas abaixo de 60 anos.

“Falam que 2% é letalidade baixa, mas e se for seu pai, sua mãe, seu filho? Aí não representa 2%, representa 100%! As pessoas têm de ter consciência”, avalia a médica.

A médica sanitarista Sylvana Medeiros também diz não entender o objetivo da campanha. Para ela, focar apenas em idosos não faz sentido, quando se trata de controlar uma epidemia.

“As crianças adoecem menos, mas adoecem também. O que fazer com as crianças que têm problemas crônicos? Isolá-las? E os jovens? Se a gente não quer dispor a nossa população ao risco, tem de pensar em várias frentes, de forma ampla — não falar em isolar só idoso, porque jovem, teoricamente, morre pouco”, afirma Medeiros.