Ao fazer ‘toma lá da cá’ com Congresso, Bolsonaro comete quase um ‘estelionato eleitoral’, diz professora

Atualizado em 4 de dezembro de 2019 às 12:42
Jair Bolsonaro (EVARISTO SA / AFP)

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Até o final deste ano, o governo de Jair Bolsonaro deve liberar cerca de R$ 1,2 bilhão em emendas aos parlamentares para garantir vitória em votações no Congresso Nacional. De acordo com informações do jornal Folha de S. Paulo, desta terça-feira (3), deputados e senadores foram informados de que o governo prometeu uma execução semanal de R$ 300 milhões. O compromisso com a liberação foi firmado ainda no primeiro semestre do ano como moeda de troca para apoio às medidas do Executivo.

Agora, o governo espera aprovar até o dia 17 de dezembro o orçamento para 2020, e pretende destravar essa pauta com a execução de emendas que já foram anunciadas aos presidente da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP), respectivamente, e ao líder do governo no Congresso, o senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

Na prática, Bolsonaro repete o “toma lá, dá cá”, que ficou caracterizado também no processo de aprovação da “reforma” da Previdência, quando recursos do programa Mais Médicos foram desviados para a compra de apoio, como analisa a cientista política e professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Maria do Socorro Souza Braga em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual.

“Ele (Bolsonaro) acabou, digamos assim, cometendo quase que um estelionato eleitoral para o eleitorado, porque ele se vendeu praticamente durante a campanha dizendo que não ia fazer o que chamou de ‘jogo das velhas raposas’, dos partidos que a gente começa a considerar tradicionais”, ressalta Maria do Socorro.

“Ele se elege falando que não ia entrar pela velha política, não ia ficar nessas negociações a varejo e ele não tem como não fazer isso, porque é um governo de minoria e governo de minoria vai ter que negociar cada pleito porque não tem aquela base parlamentar que ele devia ter trabalhado desde o começo do governo”.

“Ele (Bolsonaro) terá maiores dificuldades e ficará refém do Congresso. Porque o Congresso hoje tem condições de mostrar para a sociedade que ele é capaz de garantir a governabilidade. Não é pensar que o Congresso está negociando questões particulares, claro que tem uma continuidade dessa política, de negociar e fazer essa barganha, mas tem uma outra parte do Congresso que está mostrando também para o Executivo que não concorda com a sua pauta, com os seus projetos de lei”, avalia a docente.

Perto das eleições municipais que ocorrem em 2020, os parlamentares aproveitam das emendas para utilizá-las no fortalecimento de suas bases eleitorais. Por enquanto, se as regras legislativas forem mantidas, o novo partido de Bolsonaro seguirá fora da disputa municipal do ano que vem. A cientista política destaca que o cenário é “complicado para a família Bolsonaro”, que nesta semana teve já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), suspenso pela diretoria nacional do seu partido.