Ao invés de falar em perdão ao PT, a Globo deveria pedir desculpas. Por Rogério Correia

Atualizado em 11 de julho de 2020 às 18:17
Cerimonia de posse da presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann e da nova diretoria nacional do partido, que contou com a presença do ex-presidente Lula da Silva e da ex-presidente Dilma Rousseff. Brasilia, 05-07-2017. Foto Sergio Lima/Poder 360

Por Rogério Correia

Em artigo intitulado “É hora de perdoar o PT”, o jornalista Ascânio Selene, de O Globo, diz que “o ódio dirigido ao partido não faz mais sentido e precisa ser reconsiderado se o país quiser mesmo seguir o seu destino de nação soberana, democrática e tolerante”. No mínimo curioso o texto, vindo da mesma organização midiática que não somou esforços para atacar dia e noite o Partido dos Trabalhadores. Que concentrou praticamente todo empenho jornalístico para criar a falsa imagem do “partido mais corrupto de todos os tempos”. Agora vem falar em perdão?

Não que não tenha havido erros por parte Partido dos Trabalhadores. Isto é normal e comum em qualquer partido político ou organização instituída. Mas, a impressão que se passa é que esse artigo é uma espécie de “autocrítica” pedante e carregada de arrogância.  Ascânio argumenta que é preciso reconhecer que 30% dos eleitores brasileiros são de esquerda e que o PT é a principal força político-partidária deste campo. Ele diz ainda que “ninguém tem dúvida de que os malfeitos cometidos já foram amplamente punidos”. Porém, não consegue reconhecer o quanto o conglomerado dos irmãos Marinho blindou e continua protegendo o PSDB. O exemplo mais recente foi da operação da Polícia Federal, no último dia 3, envolvendo o senador e ex-governador de São Paulo, José Serra. De acordo com a denúncia, entre 2006 e 2007, o tucano usou seu cargo para receber da Odebrecht pagamentos indevidos em troca de benefícios nas obras do Rodoanel Sul. O caso foi noticiado no dia da operação policial, mas não se falou mais no assunto.

Se a Rede Globo quiser mesmo fazer uma autocrítica real, despida de tanto pedantismo e arrogância, será preciso, antes de tudo, que reconheça a perseguição que fez ao presidente Lula e a perseguição que culminou no golpe contra a presidenta Dilma, além disso, reconhecer os feitos dos governos petistas. Lula saiu do Governo com 87% de aprovação, encerrando seu mandato com o PIB crescendo mais de 7% ao ano. Com o Bolsa Família, o Brasil saiu do Mapa da Fome, promovendo uma das maiores políticas de transferência de renda do mundo.

Para fazer uma autocrítica verdadeira, é preciso reconhecer que as gestões Lula/Dilma realizaram os maiores avanços educacionais de nossa história. Foram estes governos que criaram o Fundeb, o Plano de Desenvolvimento da Educação que destinou recursos para mais de 37 mil escolas, o Prouni que beneficiou mais de 2 milhões de estudantes e o Pronatec, que é um programa de ensino técnico de excelência. Foram também os governos petistas que promoveram a maior universalização do ensino, criando acessibilidade por meio das políticas de cota e financiamento.

É preciso reconhecer ainda que o Brasil avançou em muito em sua política de saúde pública nas eras Lula/Dilma. Aqui, podemos citar o aumento de 302% do orçamento do SUS e 63% dos leitos de UTIs, a criação do Samu e das UPAs, e os programas Mais Médicos e Farmácia Popular.

Seria interessante que esta autocrítica reconhecesse ainda o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que estimulou a agricultura familiar, garantindo alimentos saudáveis e segurança alimentar a milhares de brasileiros. Que lembrasse de programas de desenvolvimento socioeconômico como o Luz para Todos e Água para Todos.

Porém é difícil que este reconhecimento parta da mídia que sempre trabalhou contra as políticas de diminuição das desigualdades. Pelo contrário, sempre foi a favor das iniciativas liberais e agora apoia o ultraliberalismo de Paulo Guedes.

Sendo assim, fica uma situação um tanto quanto cômoda dizer em perdão o PT no momento em que a Globo está historicamente em seu maior isolamento.  Atacada constantemente pelo fascismo bolsonarista a emissora está perdendo espaço para redes como a Record e CNN, além de não conseguir fazer frente aos sistemas streaming, a exemplo da Netflix.

O mesmo grupo midiático que trabalhou pelo golpe de 2016, que colocou nossa soberania à venda, que criou factoides para a prisão injustificável do ex-presidente Lula, favorecendo a ascensão de Bolsonaro agora diz, arrogantemente, em perdão?

É preciso antes de tudo que se faça uma verdadeira autocrítica, sem pedantismo e arrogância e que a Globo se reconheça como a criadora do próprio monstro que agora se volta contra ela.