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Ao invés de se meter com os vizinhos, Bolsonaro deveria se preocupar em não transformar o Brasil em outra Argentina

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro Foto: CLAUDIO REYES / AFP

 

Não existem respostas fáceis que expliquem o porquê de impérios sólidos dominantes da economia, do conhecimento e do poder bélico mais cedo ou mais tarde, invariavelmente, ruírem.

Mas, em contraposição, é fácil entender os motivos pelos quais a corda tende sempre a arrebentar do lado mais fraco.

Governos ineptos, inexperientes, periféricos e convictamente subalternos de nações “primeiro-mundistas” possuem por natureza todas as condições necessárias para o desastre anunciado de suas administrações.

Se a política econômica e a postura internacional adotadas pela Argentina de Maurício Macri, por exemplo, já nos davam a ideia do que nos espreitava um governo Aécio Neves, mas que fatalmente foi implementado por Michel Temer e aprofundado por Jair Bolsonaro, o resultado se dá após três anos da retirada do PT do poder.

Com um país em estágio avançado de deterioração de seus principais índices econômicos e, ainda mais preocupante, sem absolutamente nenhuma expectativa de melhora, a queda se torna cada vez mais uma realidade.

Politicamente instável, socialmente injusto e economicamente ignorante, Bolsonaro e sua trupe se esforçam para manter as aparências frente a uma sucessão inédita de derrotas e humilhações movidas a trapalhadas ideológicas.

Completamente sem rumo, não é de se espantar que expoentes do governo tanto da ala esquizofrênica (Damares Alves) quanto da autoritária (Sérgio Moro) já aventem a possibilidade de arriscarem a sobrevivência no mar revolto do desemprego à permanecerem no naufrágio certo da empreitada Olavo-bolsonariana.

Com apenas 120 dias passados, o cenário de terra arrasada na economia, na saúde, na educação, na segurança e nas políticas de inclusão social deixam claro que não existe saída no horizonte próximo.

Nada obstante, enquanto o governo desmorona por inanição sob os seus pés, a preocupação do presidente é que a Argentina não se transforme em outra Venezuela.

O que Jair Bolsonaro parece não perceber com os tremores que o abalam, é que sua preocupação deveria estar voltada para que o Brasil, este sim, não se transforme melancolicamente em outra Argentina.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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