Ao menos 21 mortos em massacre no Rio não tinham passagem por crime grave

Atualizado em 31 de outubro de 2025 às 12:58
Corpos de mortos em massacre no Rio de Janeiro, na última terça (28). Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress

O governo do Rio de Janeiro informou nesta sexta (31) que 99 dos 121 mortos na Operação Contenção, deflagrada contra o Comando Vermelho, já foram identificados. Segundo o balanço da Polícia Civil, 42 deles tinham mandado de prisão em aberto e ao menos 78, um histórico por crimes como homicídio, tráfico de drogas e participação em organização criminosa. Ou seja: 21 não possuíam passagens por crimes graves.

A corporação ainda afirmou que 40 deles são de outros estados, como Pará, Amazonas, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Ceará e Paraíba. A ação, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, é considerada a mais letal da história do país.

De acordo com o secretário da Polícia Civil, delegado Felipe Curi, “é preciso uma mobilização nacional no combate a essa organização criminosa. A legislação atual está completamente desconectada da realidade”.

O secretário classificou todos os os mortos como “narcoterroristas” e alegou que a operação foi necessária diante da força armada da facção. A ação mobilizou 2,5 mil agentes das polícias Civil e Militar e do Gaeco (Ministério Público do Rio).

No Instituto Médico Legal (IML), mais de 100 corpos passaram por necropsia até a noite de quinta (30). Parte já foi liberada às famílias. O trabalho é acompanhado pelo Ministério Público do Rio, que deve elaborar laudos próprios com peritos independentes. Desde terça (28), 15 corpos foram retirados do local.

Agentes da Polícia Civil durante megaoperação que resultou em massacre no Rio. Foto: Mauro Pimentel/AFP

A Defensoria Pública do Estado afirmou ter pedido para acompanhar as perícias, mas teve o acesso negado pela Polícia Civil. O órgão argumenta que sua presença está prevista pela “ADPF das Favelas”, decisão do Supremo Tribunal Federal que garante o acompanhamento de operações em comunidades.

O governo estadual, por sua vez, restringiu o acesso ao IML apenas a policiais civis e membros do Ministério Público. Entidades de direitos humanos criticam a falta de transparência e cobram investigação independente sobre possíveis execuções e abusos durante a operação.

Embora o governo tenha declarado “sucesso” na ação, o principal alvo da operação, Edgar Alves de Andrade, o Doca, líder do Comando Vermelho, continua foragido. O Disque Denúncia oferece R$ 100 mil por informações sobre seu paradeiro. Segundo a Secretaria de Segurança, ele conseguiu escapar após usar traficantes para formar uma barreira contra o avanço policial.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.