Ao propor o plebiscito, Dilma dá um xeque no golpe e já sai da história maior do que entrou. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 11 de junho de 2016 às 9:57

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O ponto alto da boa entrevista de Dilma à TV Brasil foi o trecho em que ela falou do plebiscito sobre novas eleições (sem esquecer os detalhes sobre o tratamento do câncer, a queda de cabelo e os recados a Merval Pereira).

“Será necessário consultar a população para remontar um pacto que vinha desde a Constituição de 1988 e foi rompido com o processo de impeachment”, disse a Luis Nassif no Palácio da Alvorada.

Para que a “consulta popular” seja efetivada, diz ela, é necessário “o fim do golpe”. É preciso “lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”.

Eduardo Cunha ainda está “dando as cartas”. Nas condições atuais, “é impossível recuperar a confiança” do empresariado, ainda mais levando-se em conta que a atual gestão rompeu um contrato fundamental, que foi o das eleições.

Dilma está dando um xeque mate nos golpistas.

No Senado, abre uma porta para quem estava em dúvida e para os que não querem nem Temer e nem ela. Também conversa com o pedaço da população que deseja outro pleito.

O senador Walter Pinheiro (sem partido) propôs uma PEC nesse sentido. Tem o apoio de, entre outros, Cristovam Buarque (PPS-DF), João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). De acordo com a última pesquisa CNT/MDA, 50,3% dos brasileiros estão de acordo com a ideia.

Mostra, além disso, desapego e grandeza — o oposto do interino. Dependendo da resposta a sua proposição, feita publicamente, fica escancarada a sede de sangue golpista e a cumplicidade de quem aceita e banca uma gangue fazendo uma mudança completa na casa sem qualquer legitimidade.

Dilma se movimenta num momento em que a vilegiatura de Temer, que tinha tudo a favor, dá sinais de que será um desastre completo. Ele é apenas um mau síndico.

Cunha, apesar de ainda operar, está com a necessaire e o KY prontos para a prisão, destino possível de colegas do PMDB; denúncias de corrupção atingem praticamente um ministro por dia; o PSDB se reduziu a Serra e Aécio morreu; a lua de mel com o mercado acabou; a desmoralização no exterior está consolidada; e, acima de tudo, Michel Temer, que era um anão moral decorativo, diminui a cada dia.

Sobram-lhe, como fiadores, a Globo, a Fiesp, os bandidos de sempre no Congresso e a parcela de fascistas que admite que foi para as ruas para combater os corruptos que não eram deles.

Os movimentos sociais não darão descanso. Por que deveríamos nos arrastar assim até 2018?

Há questões jurídicas. De acordo com a Constituição, uma eleição só poderia ocorrer em 2016 caso a titular e o vice deixassem o cargo por cassação do mandato no Tribunal Superior Eleitoral, impedimento ou renúncia de ambos.

Randolfe propõe um referendo revogatório, o “recall”, adotado em países como Alemanha, em alguns estados dos EUA, na Suíça e na Venezuela.

Muita água vai correr sob a ponte para o futuro. Mas Dilma já sai da história maior do que entrou.