Ao questionar hegemonia do dólar, Lula se aproxima da Eurásia e desafia EUA

Atualizado em 13 de abril de 2023 às 17:08
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante discurso em Xangai, na China. Foto: Reprodução

Por Eduardo Maretti

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um duro discurso nesta quinta-feira (13), criticando a hegemonia do dólar norte-americano, em Xangai. “Por que não podemos fazer o nosso comércio lastreado na nossa moeda? E por que não temos o compromisso de inovar?”, questionou. “Por que todos os países são obrigados a fazer seu comércio lastreado no dólar? Quem é que decidiu que era o dólar a moeda depois que desapareceu o ouro como paridade?”, insistiu Lula.

“Por que não foi o iene, o real, o peso? (…) Hoje um país precisa correr atrás de dólar pra exportar, quando poderia exportar na própria moeda.” Ele fez o pronunciamento na cerimônia de posse da ex-presidente Dilma Rousseff no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), na manhã de hoje, no horário de Xangai.

Aplaudido, Lula sugeriu a Dilma que tenha a “paciência” dos chineses. “Não pode ter pressa, Dilma, porque em economia a gente não pode ter pressa. Você está num país em que, se tem uma coisa que se cuida bem aqui, é paciência.”

Mencionando o bloco econômico formado pelo próprio Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, questionou ainda: “Mas por que um banco como os Brics não pode ter uma moeda que possa financiar a relação comercial entre Brasil e China, entre o Brasil e os outros países do Brics?”

Yuan e real, sem o dólar

Em 29 de março, quando empresários brasileiros visitaram a China, os asiáticos deram início a um processo no sentido sugerido hoje por Lula. A China autorizou a subsidiária brasileira do Industrial and Commercial Bank of China (ICBC, ou Banco Industrial e Comercial da China) a fazer a compensação direta de yuans para real.

O sistema chamado clearing house (arrumação da casa, em tradução livre) é condição para viabilizar operações comerciais e financeiras diretamente entre nas duas moedas, permitindo que o dólar seja descartado nas transações.

A redução da dependência do dólar e expansão da circulação do yuan está no horizonte das políticas estratégicas da China, o que desafia a hegemonia dos Estados Unidos. O que não sabe é qual será a abrangência da reação dos Estados Unidos diante dessa política.

A China governada por Xi Jinping assinou acordos com Arábia Saudita e Rússia para usar o yuan no comércio. A estratégia faz parte da tentativa de mudança de eixo do mundo, do ocidente para o que seria uma nova ordem euroasiática. A construção dessa nova realidade está sendo impulsionada pela guerra na Ucrânia.

Publicado originalmente na “Rede Brasil Atual”

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link