Ao tratar um espancador de mulher como herói, Bolsonaro endossa outros iguais. Por Nathalí

Atualizado em 3 de junho de 2019 às 21:43
Jair Bolsonaro. Foto: EVARISTO SA / AFP

Brazilian Horror Story: o ano é 2019. O autor do jingle do presidente cometeu suicídio depois de ser acusado de espancar a namorada grávida.

Jair Bolsonaro fez um post de condolências no Twitter dizendo que o espancador seria lembrado “por seu amor pelo Brasil.”

“Tales Volpi, conhecido como Mc Reaça, nos deixou no dia de ontem. Tinha o sonho de mudar o país e apostou em meu nome por meio de seu grande talento. Será lembrado pelo dom, pela humildade e por seu amor pelo Brasil. Que Deus o conforte juntamente com seus familiares e amigos.”

Todo o clã Bolsonaro, que adora os tapinhas nos ombros de milicianos e espancadores, trata o agressor como herói e ignora o fato de que há uma mulher grávida no hospital por ter sido espancada por ele.

Que tipo de defensores da família ignoram uma mulher agredida e uma criança que ainda nem nasceu – justo eles, os pró-vida? – e congratulam o agressor?

Ainda me espanta que o moralismo fajuto da família Bolsonaro não tenha se desmantelado diante dos olhos de seus seguidores mais fiéis.

Qual é o conceito de moral dessa gente?

Comemorar a morte de ativistas pelos direitos humanos e lamentar a de um agressor da própria companheira e filho?

Condescendência para o espancador e nenhuma palavra por Evaldo Rosa dos Santos, fuzilado pelo exército do Rio de Janeiro?

Ao tratar um agressor como herói, Bolsonaro só confirma o que sempre esteve claro: é a esse tipo de gente que seu caráter está alinhado.

Quando não estava fazendo campanha pra Bolsonaro, MC Reaça compunha “músicas” (barulho) que comparavam mulheres a cadelas.

Não vale a pena reproduzi-las (saber que o Presidente da República o faz é suficiente), mas é fácil imaginar o quanto são asquerosas.

Não comemoro – jamais o faria – a morte de Tales Volpi, mas tampouco presto homenagens a ele. E isso era o mínimo que o Presidente deveria fazer, em respeito aos mulheres e à família que tanto defende, mas, em vez disso, lhe presta honrarias.

O tweet de Jair Bolsonaro não é apenas um tweet, é uma clara mensagem que vem sendo transmitida há muito tempo: o Brasil está sob o poder de condescendentes com o que há de mais sórdido em todas as camadas da sociedade.

O governo não repudia o feminicídio, porque tampouco o enxerga.

Somos enfim governados pelos amigos dos milicianos e espancadores.