A atriz Giovanna Goldfarb, de 61 anos, decidiu retomar uma trajetória interrompida há quatro décadas e está entre os 17.192 brasileiros com mais de 60 anos inscritos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste domingo (9). Com informações do jornal O Globo.
O número representa um aumento de 191% em relação a 2022, quando pouco mais de seis mil idosos participaram do exame. A prova, principal porta de entrada para o ensino superior no país, reúne 4,8 milhões de candidatos em 2025.
Conhecida por interpretar Zefa na primeira versão da novela “Pantanal” (1999), exibida pela TV Manchete, Giovanna diz que quer se reconciliar com sua “versão aluna”. “Minha versão aluna merece ser melhor”, afirmou. Ela traçou um plano de metas para a prova: “1) gabaritar História, Geografia, Literatura e Inglês; 2) tirar 800 na redação; 3) acertar alguma coisa de Matemática e Física; 4) algumas de Biologia e Química; 5) passar na faculdade que pretendo.”
Nos anos 1980, Giovanna chegou a ingressar no curso de Teatro da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), mas não conseguiu concluir.
Um grave episódio de dependência química e um acidente de carro interromperam os estudos. Quarenta anos depois, ela voltou às salas de aula por meio do projeto “Mulheres na Escola”, iniciativa da Fundação Cecierj e da Secretaria de Estado da Mulher do Rio, que incentiva o retorno à educação formal de mulheres a partir de 16 anos.
Em tom bem-humorado, Giovanna relata o impacto de conviver com colegas muito mais jovens. “Me sinto um museu ambulante na turma do pré-vestibular social que frequento. A gente ri à beça. Me sinto quase que da época de Pedro Álvares Cabral! O professor mostrou um vilão destruidor do mundo e eu perguntei quem era. Todos sabiam, era da Marvel, menos eu”, contou.
Neste domingo, os participantes do Enem enfrentam 90 questões de Linguagens e Ciências Humanas, além da redação. No próximo domingo (16), serão mais 90 questões de Matemática e Ciências da Natureza. O exame seleciona estudantes para universidades federais e para o Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo em instituições privadas.
Outra candidata que ilustra o perfil dos novos idosos estudantes é Magna Gomes, de 70 anos, moradora de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Órfã desde os 9 anos, ela começou a trabalhar aos 12 como empregada doméstica e deixou os estudos ainda na infância. “Minha mãe veio sozinha de João Pessoa para o Rio, e depois que ela morreu fiquei desamparada”, lembra.
Depois de dois casamentos, três filhos — dois deles formados — e a alfabetização pelo EJA, Magna descobriu o “Mulheres na Escola” enquanto pesquisava cursos gratuitos de informática. Seu objetivo é cursar Direito. “Se Deus quiser, vou conquistar meu diploma, mas não pretendo parar nunca mais de estudar”, afirmou.