Apoio de Bolsonaro nas redes sociais desaba após escândalo de joias roubadas

Atualizado em 13 de agosto de 2023 às 11:19
Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente. Foto: reprodução

Ao virar alvo de diversas investigações conduzidas pela Polícia Federal, a imagem de Jair Bolsonaro (PL) é cada vez menos apoiada nas redes sociais. Desde sexta-feira (11), o ex-presidente está enfrentando um declínio gradual de apoio público por parte de seus aliados nos meios digitais. Estas plataformas têm sido um campo de batalha primário para os defensores do ex-presidente nos últimos anos.

Uma análise realizada pelo jornal O Globo nos perfis de deputados federais e senadores revela que, no dia 8 de janeiro, quando os apoiadores de Bolsonaro atacaram as sedes dos três Poderes, 28 congressistas expressaram discursos alinhados aos interesses do ex-presidente. No entanto, esse número nunca mais foi superado em outros momentos críticos para o líder da extrema-direita. Especialistas sugerem que a ausência de manifestações dos aliados nessas situações dificulta a formação de uma estratégia defensiva digital para os bolsonaristas.

Após oito meses do episódio de vandalismo em Brasília, uma operação da PF recentemente focou em indivíduos próximos a Bolsonaro, investigando a jornada de joias de luxo que ele recebeu durante seu mandato. Após esta ação, somente uma parlamentar, a deputada Bia Kicis (PL-DF), se pronunciou em apoio ao ex-presidente nas redes sociais.

Utilizando ferramentas de mapeamento, a análise examinou mais de 8 mil postagens dos 513 deputados federais e 81 senadores em seis ocasiões distintas. Além do 8 de janeiro e do evento mais recente, outros quatro momentos críticos foram considerados, nos quais figuras próximas a Bolsonaro enfrentaram situações desafiadoras: a prisão do ex-ajudante de ordens Mauro Cid pela PF em maio; a operação de junho relacionada a uma reunião com conotações golpistas envolvendo o senador Marcos do Val (Podemos-ES), o ex-deputado federal Daniel Silveira e um ex-titular do Planalto; a prisão do hacker Wagner Delgatti em 2 de agosto, quando também houve busca e apreensão no gabinete de Carla Zambelli (PL-SP); e a prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), acusado de interferir nas eleições.

Na operação que investigou a fraude nos cartões de vacinação da Covid-19, que resultou na prisão de Cid, um senador e 27 deputados expressaram rapidamente indignação nas redes. O total de reações favoráveis a Bolsonaro caiu para oito durante a ação envolvendo Do Val, e para quatro na situação que abrangeu Delgatti e Zambelli. Na prisão de Vasques, dez parlamentares criticaram publicamente.

Um exemplo é o deputado Capitão Alden (PL-BA), que criticou a operação relacionada à PRF, chamando-a de “sem pé nem cabeça” e até utilizando palavrões. Essa postagem, contudo, foi removida.

No último dia, enquanto detalhes sobre as negociações das joias de Bolsonaro surgiam, a ordem para que aliados mantivessem silêncio veio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Costa Neto, que em outros momentos buscou proteger o principal membro do partido, não se manifestou nas redes.

Até mesmo os filhos de Bolsonaro só se pronunciaram à noite, depois que os advogados emitiram uma nota. No entanto, a análise considerou apenas postagens feitas nas primeiras 12 horas após o início da operação. O senador Flávio (PL-RJ) escreveu no Twitter, mais de 14 horas após o início das ações da PF, que “mais uma vez a tentativa de assassinar a reputação de Bolsonaro salta aos olhos”. Até aquele momento, Bia Kicis era a única a se manifestar, embora não tenha citado diretamente a questão mais recente que envolve Bolsonaro. Ela compartilhou uma queixa sobre alegada perseguição a políticos de direita nas Américas.

Letícia Capone, professora do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, sugere que a falta de manifestações nas redes pode indicar que os aliados estariam “aguardando instruções” do clã Bolsonaro sobre como proceder. Isso tem sido uma abordagem comum do grupo em outras ocasiões, quando as diretrizes eram determinadas pelo núcleo bolsonarista.

Já André Eler, diretor-adjunto da consultoria Bites, conduziu uma pesquisa a pedido do jornal carioca que também detectou uma diminuição da relevância de Bolsonaro nas redes. Neste ano, o pico de menções (positivas ou negativas) ao nome do ex-presidente no Twitter ocorreu em 8 de janeiro, com quase 1,3 milhão. Esse número é ligeiramente superior às 1,2 milhão de menções em 30 de junho, quando ele foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em outros momentos, como a descoberta de uma minuta de teor golpista na casa do ex-ministro Anderson Torres em janeiro e a prisão de Mauro Cid, o número de menções se aproximou de 1 milhão. Na última sexta-feira, a nova operação sobre as joias gerou apenas 307 mil menções ao ex-presidente no Twitter – menos da metade do menor índice registrado em eventos marcantes até então, como seu retorno dos Estados Unidos, quando 659 mil internautas mencionaram Bolsonaro.

Segundo André Eler, “fica claro como Bolsonaro perdeu relevância em relação a momentos importantes anteriores, sem a mesma capacidade de mover o debate público que teve em outros eventos desde o início do ano”. Segundo a consultoria Bites, entre as 50 postagens mais repercutidas no Twitter sobre Bolsonaro na última sexta-feira, apenas quatro eram de apoiadores do ex-presidente. Além disso, apenas uma delas, de uma influenciadora conservadora, defendia efetivamente Bolsonaro em relação às acusações envolvendo as transações das joias. “Os bolsonaristas estão repercutindo mais sobre outros temas, como críticas ao governo Lula, do que defendendo o ex-presidente como costumavam fazer”, acrescentou Eler.

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