Apontados com ajuda do Google, carrascos de Marielle vivem em solitárias e podem partir para a delação

Enquanto os mandantes não são conhecidos, os tocaieiros atiradores comem o pão que o diabo amassou em presídios federais

Atualizado em 14 de março de 2023 às 21:39
Ronnie e Elcio estão trancafiados em prisões federais mesmo sem terem sido julgados (Imagem: reprodução)

Enquanto os mandantes levam a vida boa, os carrascos de Marielle e Anderson, Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, comem o pão que o diabo amassou.

Os dois ex-policiais militares do Rio de Janeiro, acusados do crime contra a vereadora e seu motorista, na noite de 14 de março de 2018, estão há quatro anos trancafiados em penitenciárias federais.

Essas prisões diferem das outras não apenas em relação ao perfil dos detentos, mas também pelas regras de ocupação. Ali, onde cumprem pena chefes de quadrilhas, dedos duros jurados de morte e bandidos de alto calibre, nunca foram registradas fugas ou rebeliões.

A taxa de ocupação é de apenas 59%, bem menor que a média nacional.

O Ministério da Justiça não informa a localização dos presos, já que de tempos em tempos eles são transferidos. Todas as cinco unidades do país são iguais, com 208 celas.

Cada uma tem 12 metros quadrados e o preso passa o dia todo trancado. Só sai para atendimento médico, audiência com juiz ou advogado.

Ronnie e Elcio têm direito a duas horas de banho de sol por dia. Só conversam com seus familiares uma vez por mês, através do parlatório. Não têm acesso a TV, jornais e tomam banho de água fria em horários pre-determinados.

Presos pela telemática

O curioso é que a dupla ainda não foi julgada.

Desde que foram presos, dois dias antes do crime completar um ano, eles negam a participação.

As evidências que levam os investigadores a crer na culpa de ambos foram obtidas por meio de checagens de telemática, sistema que monitora a circulação de pessoas a partir da análise de dados obtidos por redes de telecomunicações e web.

Parceria inédita com a Google

O caso envolveu uma parceria então inédita entre as autoridades brasileiras e o Google. A big tech liberou as informações para rastrear a navegação dos criminosos na web antes e depois do brutal assassinato.

Pela quebra do sigilo de telefonia, descobriu-se que o carro que levava os atiradores saiu do ‘quebra mar’ da praia da Barra da Tijuca, onde Lessa operava um bingo clandestino, por por volta de 17h24 de 14 de março de 2018.

Seguiu pelo caminho do Alto da Boa Vista, bairro localizado no topo do Maciço da Tijuca, num trajeto feito por uma estrada sinuosa e cercada de floresta.

Os dois ex-policiais chegaram à Rua dos Inválidos, onde Marielle se reunia com correligionárias na Casa das Pretas, espaço de encontros, acolhimento, de produção e prática de saberes específicos da vivência das Mulheres Negras, às 18h58.

Ali montaram tocaia, dentro do carro, com os vidros fechados, até começar a perseguição que daria fim à vida da vereadora do PSOL e seu colega de trabalho.

Marielle, mostram os laudos, levou quatro tiros na cabeça, e Anderson foi assassinado por três balas que perfuraram suas costas, na altura do ombro.

Mônica Benício e a pergunta que não cala

Nesta terça, data que marca os cinco anos do assassinato, a cidade do Rio de Janeiro amanheceu com uma faixa exposta na fachada do palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara de Vereadores.

Quem mandou exibir foi a vereadora Mônica Benício (PSOL), viúva da líder assassinada. 

Em conversa com o DCM, Mônica contou sobre sua extensa agenda para marcar a passagem da data.

Resumiu, porém, sua luta nos dizeres que mandou pendurar na fachada do Parlamento da capital: “Quem mandou matar Marielle?”

Enquanto esses mandantes não são apontados e levam a vida numa boa, sem preocupação, os laranjas pagam o pato.

Delação para a redução da pena

Num caso que ganhou projeção mundial pela brutalidade e por expor o modus operandi da milícia carioca nas suas ações políticas, Ronnie Lessa e Elcio Queiroz devem ir a júri popular pelos assassinatos.

A expectativa, se as investigações avançarem, é de que os réus confessem sua participação e delatem os mandantes para tentar reduzir a pena.

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Jose Cassio
JC é jornalista com formação política pela Escola de Governo de São Paulo