Após 30 anos, Macron reconhece que França ‘poderia ter impedido massacre’ no genocídio de Ruanda

Atualizado em 6 de abril de 2024 às 17:26
Emmanuel Macron, presidente da França. Foto Reprodução

Ruanda se prepara para celebrar durante 100 dias o 30º aniversário do genocídio de 1994 perpetrado contra os tutsis e alguns hutus que se opuseram ao massacre. Os assassinatos começaram em 7 de abril de 1994 e mataram entre 800.000 e um milhão de pessoas.

O presidente francês, que já reconheceu a “responsabilidade” de seu país pelo genocídio em 2021, falará neste domingo (7) “em um vídeo que será publicado em suas redes sociais”, acrescentou uma fonte do Palácio do Eliseu.

“O chefe de Estado vai salientar em particular que, quando a fase de extermínio total dos tutsis começou, a comunidade internacional tinha os meios para saber e agir, graças ao seu conhecimento de genocídios, como nos foi revelado pelos sobreviventes dos armênios e dos campos de concentração nazistas, e que a França, que poderia ter parado o genocídio com seus aliados ocidentais e africanos, não teve a vontade de fazê-lo”, acrescentou a fonte.

Como lembrete, a Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda (Unamir) retirou 90% de suas forças de paz de Ruanda apenas duas semanas após o início dos massacres.

Paris ressalta que esse discurso será uma continuação do discurso feito pelo líder francês em Kigali em maio de 2021. Naquela ocasião, o presidente se baseou nas conclusões do relatório Duclert, que acabara de ser entregue por uma comissão de historiadores encarregada da questão.

Genocídio em Ruanda completa trinta anos. Foto: Reprodução

Pouco depois da publicação do relatório, o professor Vincent Duclert falou à RFI sobre a maneira como “a França ajudou a reforçar a tendência racista e o excesso de armamento” do governo hutu na época.

Convidado para as comemorações pelo presidente de Ruanda, Paul Kagame, de quem é próximo (Kagame o chama de “meu amigo”), Emmanuel Macron não comparecerá. Ele será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Stéphane Séjourné, e pelo secretário de Estado para os territórios ultramarinos, Hervé Berville.

Um “passo importante”

Ibuka France, uma associação de sobreviventes do genocídio tutsi de 1994 que vivem na França, reagiu ao anúncio do Eliseu. Seu presidente, o historiador Marcel Kabanda, disse que estava “muito satisfeito” com o que descreveu como um “passo importante” que acabara de ser dado. Ele conclamou a França a ir além, pedindo desculpas às vítimas do genocídio.

A reação do Collectif des parties civiles pour le Rwanda, que vem acompanhando os genocidas ruandeses há décadas, foi mais comedida. Alain Gauthier reconhece um pequeno passo à frente, mas acha que é muito pouco. “É um pequeno passo à frente, mas para os sobreviventes, para as vítimas, não representa muito. Ele [Macron] simplesmente reconhece que, além da responsabilidade pesada e esmagadora, houve uma total falta de vontade de intervir”, afirma.

Ele acredita que precisamos ir além e não ter “medo de usar a palavra cumplicidade”. “Se o governo francês de 1994 não teve vontade de intervir, mesmo sabendo o que estava acontecendo e o que ainda iria acontecer, devemos ir tão longe quanto reconhecer a cumplicidade do Estado francês”, concluiu.

Originalmente publicado em RFI.

Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link