
A ministra Cármen Lúcia tem confidenciado a pessoas próximas que considera deixar o Supremo Tribunal Federal (STF) antes do prazo legal de aposentadoria, previsto para 2029. A possibilidade surgiu após a saída antecipada de Luís Roberto Barroso, cuja despedida emocionada, marcada por lágrimas, influenciou a decisão da colega.
Segundo o jornalista Claudio Dantas, interlocutores da ministra relatam que a ideia surgiu após o desgaste emocional acumulado nos últimos anos. Assim como Barroso, Cármen Lúcia tem buscado conforto em práticas espirituais alternativas.
A ministra é adepta do Reiki, técnica terapêutica que busca restaurar o equilíbrio físico e mental por meio da imposição das mãos e da canalização de energia vital. Fontes também apontam preocupações de ordem pessoal e diplomática.
Cármen teria tido o visto americano revogado e teme ser alvo de sanções da chamada Lei Magnitsky, a mesma que poderia atingir Alexandre de Moraes e sua esposa. Como não pretende residir fora do país, eventuais restrições financeiras no Brasil teriam impacto mais direto sobre sua vida cotidiana.
A ministra tentou convencer Barroso a permanecer na Corte, mas, segundo pessoas próximas, agora avalia que sua saída poderia ter um efeito simbólico importante. Defensora da presença feminina no Supremo, Cármen apoia o movimento que busca a indicação de outra mulher, o que, segundo ela, “reequilibraria” a representatividade após a aposentadoria de Rosa Weber.

A magistrada foi protagonista recente de um dos momentos mais tensos do tribunal. No julgamento do primeiro núcleo da tentativa de golpe de Estado, seu voto consolidou a maioria pela condenação de Jair Bolsonaro e de ex-ministros.
“Nossa República tem um melancólico histórico de termos poucos republicanos e, por isso, a importância de cuidar do presente processo”, afirmou. Ela endossou a tese do relator Alexandre de Moraes, afirmando que o 8 de janeiro “não foi um acontecimento banal depois de um almoço de domingo”.
Segundo a ministra, o episódio representou “um ataque sistemático às instituições democráticas, liderado por Jair Messias Bolsonaro e figuras das Forças Armadas e da inteligência, com o objetivo de impedir a alternância legítima de poder”.
Em tom reflexivo, Cármen disse esperar que o julgamento funcione como “um remédio para que [a ameaça à democracia] não volte com frequência”. E, em sessão posterior, comentou com ironia: “Há pessoas que têm problema para lembrar; eu tenho problema para esquecer. Queria até esquecer algumas coisas de vez em quando, principalmente algumas pessoas, e não consigo.”