
Dois dias após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, com 121 mortos nas favelas da Penha e do Alemão, o governador Cláudio Castro (PL) publicou um vídeo nas redes sociais anunciando um pacote de benefícios para o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). A medida inclui reajuste salarial para os agentes e o que chamou de “maior investimento em armamento e infraestrutura já feito de uma vez só”, no valor de R$ 31 milhões.
Na gravação, feita dentro das instalações do Bope, Castro afirmou que o reajuste é “fundamental para valorizar o nosso Bope” e que o investimento garantirá “equipamentos de última geração para atender cada dia melhor a população”. O vídeo foi publicado enquanto ainda repercutia internacionalmente o massacre ocorrido sob sua gestão, criticado por organizações de direitos humanos e por setores do governo federal.
O governador agradeceu à Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) pelo apoio às medidas e mencionou que novos projetos serão votados “nas próximas semanas” para permitir o aumento dos gastos com segurança pública. Deputados aliados participaram do evento, exibido como um ato político em defesa das forças de elite da PM, em meio às denúncias de execuções sumárias e ocultação de cadáveres durante a operação.
Cláudio Castro, governador do Rio, anuncia investimento milionário em equipamentos de última geração para o BOPE e reajuste salarial para os homens que lutam pela defesa da sociedade.
Parabéns, governador! pic.twitter.com/3LdtYO1pxe
— Paulo de Tarso (@paulodetarsog) November 1, 2025
O discurso de Castro evidencia a prioridade dada à militarização da política de segurança, enquanto servidores de outras áreas, como educação, saúde e serviços administrativos, seguem sem reajuste salarial. Professores da rede estadual, por exemplo, estão há mais de três anos sem aumento real e enfrentam cortes orçamentários em programas educacionais.
Críticos apontam que o anúncio pós-chacina reforça a narrativa de “valorização da tropa” como instrumento de campanha antecipada, em vez de uma política pública equilibrada. Em vez de apresentar planos para prevenir a violência ou fortalecer a inteligência policial, o governador optou por recompensar o braço armado do Estado logo após a tragédia.
A fala de Castro, encerrada com o bordão “viva a segurança e viva o nosso Rio de Janeiro”, simboliza o tom oficial dado à operação — tratada como um feito heroico, e não como uma catástrofe humanitária. Enquanto as famílias ainda identificam corpos no IML e pedem investigação independente, o governador celebra o que chamou de “sucesso” e amplia os incentivos à mesma corporação envolvida no episódio.