
A Veja é engraçada.
“Engraçada” não é bem a palavra, mas para um domingo de manhã está de bom tamanho.
A magra edição desta semana, que já está caduca, chama Jair Bolsonaro de “talvez a maior ameaça que o Brasil já enfrentou no atual ciclo democrático”.
Ele é um candidato “insular”. Atrás de Lula nas pesquisas, “suas ideias extremistas, seu discurso agressivo e seu isolamento são um sinal de alerta”.
O jornalista e sociólogo Demétrio Magnoli dá-lhe uma cacetada grave. “Não ter uma base ampla e organizada não é novidade em uma eleição. Outros candidatos menos asquerosos disputarão as eleições de 2018 também sem amplas bases”, diz.
“Isso tudo coloca um problema: como conseguirão maioria parlamentar que dê sustentação às decisões? No campo da especulação, um presidente isolado com o perfil de Bolsonaro pode tentar apelar diretamente ao povo, por cima das instituições democráticas.”
Um projeto de ditador.
A revista trata Bolsonaro como se não tivesse responsabilidade alguma sobre uma criatura oriunda da cultura do ódio e do jornalismo seletivo e mono obsessivo que pratica.
O mais divertido, porém, não é isso. É que a Veja está faturando numa “parceria” com Jair.
No dia 27 de novembro, a “ameaça à democracia”, o “extremista”, o “asqueroso” estará num evento das Páginas Amarelas.
O preço do ingresso é 900 reais. O entrevistador será Augusto Nunes, colunista de extrema direita que divide seu tempo xingando os de sempre na publicação e fazendo a mesma coisa na Jovem Pan.
Outros convidados são o arroz de festa Sérgio Moro (aceita batizados), João Doria, Barroso, Alckmin e Henrique Meirelles.
Os seguidores fanáticos de Bolsonaro, que confirmou presença, vão pagar para ver. Nem que tivessem que vender a mãe. Depois vão filmar o colóquio e fazer mais propaganda.
Na draga, inadimplente, a Editora Abril apela para o troco dos fãs do fascista que acusou. No ano que vem, mais algumas matérias fingindo supresa com o “mito” — isto é, se a Veja ainda existir.
É assim que se serve alfafa para os leitores e para o Brasil. Não é a toa que a Editora Abril está indo para o buraco aceleradamente. Em 2018, Bolsonaro estará mais vivo do que a Veja. Uma ameaça a menos à democracia.