Após o editorial da Folha contra Dilma e Lula chamar os donos de “covardes”, faz sentido Haddad ter coluna no jornal?

Atualizado em 23 de agosto de 2020 às 21:07

O editorial canalha da Folha, “Jair Rousseff”, virou um case internacional de tiro no pé.

Provavelmente, os responsáveis pela peça comemoraram o achado assim que publicaram. “Vamos causar”, pensaram.

A reação à junção Bolsonaro e Dilma no mesmo balaio para defender o teto de gastos e o neoliberalismo gerou uma reação intensa nas redes.

A piada de mau gosto foi amplamente repudiada por gente de esquerda e centro (os isentões, se preferir).

A ex-presidente dissecou o caráter golpista do jornal num libelo em que lembrou da famosa fake news de sua ficha falsa do Dops estampada na capa.

A ombudsman falou em “circo de horrores” ao vincular Dilma a “alguém que, entre outras coisas, celebra o torturador Brilhante Ustra e já disse, para voltarmos ao tema central deste texto, que não estupraria uma deputada porque ela não merece”.

Lula deu a resposta mais dura.

A Folha “apoiou os torturadores” e “está com Bolsonaro e contra Dilma, sempre esteve”, escreveu.

Os donos são “covardes e misóginos, porque para defender seus interesses não vacilam em atacar uma mulher honesta e digna como eles nunca foram.”

Está criado um dilema para Fernando Haddad, colunista do velho diário da família Frias.

Faz sentido ele continuar lá?

Para a Folha, Haddad é um álibi para provar seu falso “pluralismo”.

Ele está para a Folha como Hélio Negão para Bolsonaro, cuja função é mostrar que o chefe não é racista.

Os textos sensaborões não fazem a menor diferença nesse arranjo.

Não sei dizer, francamente, o que Haddad ganha em contrapartida. Prestígio na academia, talvez.

Voto, definitivamente, é que não é.

O leitor da Folha é um reacionário de bermuda e o editorial foi endereçado a ele. 

O divórcio entre Haddad e a Folha deve ser amigável. Vamos ver quem pede primeiro a separação.

Um casamento de aparências pode ter chegado ao fim. Sorte de Fernando Haddad.