Após tarifaço dos EUA, Brasil avalia quebrar patentes, além de taxar filmes e livros; entenda

Atualizado em 10 de julho de 2025 às 22:15
Lula, presidente do Brasil. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O governo brasileiro decidiu aguardar até o próximo dia 1º de agosto para anunciar medidas concretas em resposta à sobretaxa de 50% sobre exportações brasileiras imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A decisão foi tomada após análise da carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que justificou a medida com argumentos políticos, incluindo críticas ao tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Judiciário brasileiro, falando em uma suposta perseguição.

Fontes do governo confirmam que diversas opções estão sendo avaliadas, sempre com o cuidado de não prejudicar a economia nacional. Entre as medidas consideradas estão:
– Aumento de tarifas sobre importações de produtos estadunidenses;
– Revisão de patentes de medicamentos;
– Elevação de tributos sobre filmes, livros e outros itens protegidos por direitos autorais.

“Estamos correndo contra o relógio”, admitiu uma autoridade governamental ao jornal O Globo, referindo-se ao prazo curto para preparar uma resposta adequada.

O Itamaraty já deu o primeiro passo ao devolver a carta de Trump ao encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, classificando o conteúdo como “ofensivo” e repleto de “informações erradas”.

Entre os equívocos apontados está a alegação de superávit comercial do Brasil com os EUA, quando na realidade os americanos acumulam vantagem de US$ 90 bilhões nos últimos 15 anos.

Trump exibindo decreto sobre tarifaço global. Foto: Saul Loeb/AFP

Apesar da crise, o governo mantém cautela sobre chamar de volta a embaixadora em Washington, Maria Luiza Viotti. No entanto, foi enfático ao afirmar que não negociará questões relacionadas a processos judiciais, como o que envolve Bolsonaro no STF pela tentativa de golpe de Estado.

Enquanto isso, o Itamaraty executa uma diplomacia silenciosa porém incisiva. A aceleração das negociações com a UE e EFTA ocorre paralelamente a conversas reservadas com governadores de estados americanos dependentes de commodities brasileiras.

“Trump pode ignorar a realidade comercial, mas os agricultores do Midwest não têm esse luxo”, comenta um diplomata, em referência às pressões que já começam a surgir no coração agrícola dos EUA.

O governo Lula ressalta que fez gestões iniciais, como mensagens de congratulações após a vitória eleitoral de Trump, mas não obteve reciprocidade. “Do lado de lá, não houve reação”, resumiu um auxiliar presidencial.

Em entrevista à Record nesta quinta-feira (10), o presidente Lula (PT) reforçou que pretende usar a Lei da Reciprocidade. “O que mais vai valer é o seguinte: nós temos a Lei da Reciprocidade, que foi aprovada no Congresso. Não tenha dúvida que primeiro nós vamos tentar negociar, mas se não tiver negociação a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai colocar 50% de taxa em nós, nós vamos cobrar 50% dele”, afirmou o presidente.

A informação foi confirmada pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, que descartou um contato direto entre o Lula e Trump para negociar a questão. O petista também afirmou que se não houver diálogo, o Brasil tomará as mesmas medidas contra os EUA.

“O presidente Lula está decidido a aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica caso as tarifas de fato entrem em vigor no dia 1º de agosto”, afirmou Sidônio.