
Investigadores que acompanham o caso afirmam que as mudanças de versão apresentadas por Jair Bolsonaro sobre a violação da tornozeleira eletrônica dificultam a estratégia de defesa. Segundo registros oficiais, o ex-presidente deu três explicações diferentes para o dano no equipamento, o que aumenta a inconsistência do relato e reforça dúvidas sobre sua intenção na madrugada do dia 22 de novembro. Com informações da CNN Brasil.
A primeira versão foi dada aos policiais penais acionados pelo Centro Integrado de Monitoração Eletrônica (CIME) após o alerta de violação às 0h07. Bolsonaro afirmou que havia batido a tornozeleira na escada, justificando assim a avaria. O relato foi registrado pelos agentes que chegaram ao local menos de dez minutos depois da notificação.
Minutos mais tarde, porém, Bolsonaro mudou a explicação. Entre 0h40 e 0h50, segundo apuração, ele admitiu ter usado um ferro de solda para queimar o equipamento. Disse que a tentativa ocorreu “por curiosidade”. A diretora do CIME, Rita Gaio, registrou o diálogo em vídeo, no qual o ex-presidente confirma ter aplicado calor no case da tornozeleira, embora negasse tentar romper a pulseira.

O registro mostra Bolsonaro detalhando que iniciou o ato no fim da tarde e que utilizou um ferro de soldar com ponta metálica. As imagens do equipamento, divulgadas posteriormente, evidenciaram queimaduras ao redor do fecho e marcas compatíveis com fonte de calor contínuo. Essa segunda versão contrasta diretamente com a alegação inicial de acidente doméstico.
Na audiência de custódia realizada no domingo, Bolsonaro apresentou uma terceira explicação. Já acompanhado pelo advogado, afirmou que enfrentava episódios de paranoia e alucinação provocados por medicamentos psiquiátricos, como pregabalina e sertralina. Disse que o sono “picado” e o estado de confusão o levaram a mexer no aparelho acreditando que havia risco de vigilância indevida.
Segundo o relato da audiência, Bolsonaro justificou que, por ter experiência com equipamentos de solda, decidiu manipular o dispositivo durante a madrugada. A afirmação reforça a ideia de ação deliberada, ainda que atribuída a um possível surto, o que adiciona complexidade ao caso e amplia as contradições.
As três versões — acidente, curiosidade e surto — agora integram o conjunto analisado pelos investigadores. Para fontes ouvidas pelo blog, a sucessão de explicações torna mais difícil sustentar uma narrativa única. As divergências serão comparadas com os laudos periciais que apontam uso de calor intenso no equipamento.
O caso ganhou novos elementos com a divulgação de imagens de Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal, onde cumpre prisão preventiva. As contradições nas versões, somadas ao relatório técnico do CIME e às conclusões periciais da PF, devem orientar os próximos passos da investigação e influenciar eventuais decisões judiciais.